Dexaketo

Simplesmente Gaiato

Leazinha e o Segredo do Jardim

Leazinha tinha vinte anos e vivia numa pequena casa de madeira no fim da Rua das Acácias, onde o vento sempre trazia cheiro de terra molhada e flores silvestres. Era uma jovem de olhos grandes, cor de mel, e mãos sempre ocupadas — costurava, pintava, escrevia poemas em guardanapos de papel. Mas o que mais amava era o jardim que sua avó deixara antes de partir: um canto esquecido, onde ervas daninhas competiam com rosas antigas e um velho poço de pedra parecia sussurrar histórias.

Naquela manhã de primavera, enquanto regava as hortênsias, Leazinha notou algo estranho: uma pequena porta de madeira, escondida atrás de trepadeiras, que nunca vira antes. Curiosa, empurrou-a devagar. Rangeu como um segredo sendo revelado. Do outro lado, havia um jardim diferente — mais colorido, mais vivo, como se o tempo tivesse parado ali. Borboletas douradas dançavam no ar, e as flores cantavam baixinho, em tons que só o coração podia ouvir.

No centro, uma árvore de folhas prateadas carregava frutos em formato de estrelas. Uma voz suave, vinda de lugar nenhum e de todos os lugares, disse:
— Você é a guardiã. Só quem ama de verdade pode ver este lugar.

Leazinha arregalou os olhos.
— Guardiã de quê?

— Do encanto que mora nas coisas simples — respondeu o vento, ou talvez a árvore. — Do cuidado, da paciência, da beleza que cresce em silêncio.

Ela passou dias visitando o jardim secreto. Cuidava das flores, conversava com as árvores, ouvia as histórias do poço. Com o tempo, percebeu que o jardim refletia seu interior: quando estava triste, as flores murchavam; quando ria, brotavam cores novas.

Um dia, decidiu compartilhar o segredo. Convidou crianças da vizinhança, idosos que sentiam saudade da natureza, pessoas cansadas da correria da cidade. Mostrou a porta escondida, ensinou a ouvir as flores, a tocar a terra com respeito. O jardim floresceu ainda mais, como se a alegria coletiva fosse seu maior alimento.

Mas, um ano depois, a porta desapareceu. As trepadeiras cobriram tudo. O jardim secreto não estava mais lá.

Leazinha não chorou. Sorriu, sentada na grama, com uma estrela de pano que costurara com fios dourados — um fruto simbólico, levado de volta ao mundo comum.

Entendeu então que o verdadeiro jardim não era um lugar, mas um estado de alma. E que, enquanto houvesse amor, cuidado e olhos atentos, ele sempre existiria — dentro dela, e em todos que aprendessem a ver além do que os olhos alcançam.

Aos vinte anos, Leazinha tornou-se guardiã não de um jardim escondido, mas da magia que brota onde a gentileza planta suas raízes.

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