Era uma noite estrelada na cidade de Luziênia, quando Leazinha, uma menina de oito anos, encontrou algo que mudaria sua vida para sempre. Ela estava sentada na varanda da casa de seus avós, observando o céu escuro como se fosse uma pintura infinita, quando viu um clarão distante.
— Vovô, olha lá! — ela chamou, apontando para o brilho que parecia cair atrás das colinas.
Seu avô não deu muita bola. “Deve ser só um meteoro”, ele disse, voltando a mexer nas plantas do jardim.
Mas Leazinha sabia que tinha algo mais. Sem hesitar, ela colocou suas botinhas de borracha, pegou uma lanterna e correu pela trilha até o local onde o clarão havia caído.
Quando chegou, encontrou uma figura estranha: alta, esguia, com pele azulada e grandes olhos luminosos. Ele estava parado ao lado de uma nave redonda e reluzente, com marcas de queimaduras no chão ao redor.
— Quem… quem é você? — perguntou Leazinha, tentando não demonstrar medo.
O ser alienígena piscou devagar, como se estivesse processando as palavras dela. Então, respondeu com uma voz suave e musical:
— Meu nome é João. Vim de longe para explorar este planeta que brilha tão intensamente nas estrelas.
Leazinha riu baixinho.
— Você tem um nome bem humano.
João inclinou a cabeça, confuso.
— Eu escolhi esse nome porque achei bonito. Agora me diga, humana pequena, por que seu mundo parece tão… diferente?
Assim começou a amizade entre Leazinha e João. A garota explicou que ele havia pousado na Terra, o terceiro planeta do Sistema Solar, e que aquele era um lugar especial, cheio de vida e cores. Durante os dias seguintes, enquanto João consertava sua nave (que precisava de algumas horas a mais para funcionar novamente), Leazinha decidiu apresentar a ele tudo o que achava maravilhoso.
Ela o levou para ver o nascer do sol no topo da montanha mais alta da região. Eles caminharam descalços pelos campos de girassóis, admirando como as flores pareciam seguir o Sol. Ela mostrou a ele o rio cristalino onde nadava todos os verões, as lindas e imensas praias, que haviam em cidades próximas e subiram em árvores frondosas para observar os pássaros construírem seus ninhos.
João ficava absolutamente encantado.
— Não há nada assim no meu planeta — disse ele, tocando delicadamente uma flor. — Tudo lá é… controlado. Calculado. Aqui, a natureza respira livremente.
Mas, conforme Leazinha o guiava pelas belezas da Terra, João também começou a perceber outras coisas. Ele notou homens e mulheres vestidos com ternos caros, falando sobre números enormes em telas gigantes. Viu grandes fábricas lançando fumaça no céu limpo. Observou pessoas passarem horas olhando para pequenas telas, ignorando o mundo ao redor.
Certo dia, eles foram a um shopping center. Enquanto Leazinha olhava fascinada pelas vitrines coloridas, João parou diante de um outdoor gigante com a imagem de um homem sorridente anunciando carros luxuosos e foguetes espaciais privados.
— Quem é esse? — perguntou João.
— Ah, esse é um bilionário famoso — respondeu Leazinha, sem dar muita importância. — Ele diz que quer levar humanos para Marte!
João franziu a testa.
— Por que ele faz isso?
— Bom, ele gosta de inovação. E dinheiro, acho — disse Leazinha, dando de ombros.
João olhou ao redor, vendo as pessoas correndo de loja em loja, carregando sacolas pesadas, e depois olhou novamente para o outdoor.
— Vocês valorizam essas conquistas mais do que a própria Terra? — perguntou ele, surpreso.
Leazinha hesitou.
— Talvez… sim. Muitas pessoas pensam que o progresso significa construir coisas novas, mesmo que isso machuque o planeta.
João suspirou, seus olhos brilhando com tristeza.
— Entendo agora. Vocês têm tanta beleza aqui, mas parecem distraídos demais para realmente enxergá-la.
Nos dias seguintes, João ajudou Leazinha a entender melhor o impacto das escolhas humanas. Mostrou-lhe imagens de outros planetas que já haviam sido exuberantes, mas que agora eram desertos cinzentos por causa da ganância de suas civilizações.
— Não quero que isso aconteça com a Terra — disse ele. — Este lugar é precioso. Mas acho que ainda não é hora de eu ficar aqui.
Leazinha sentiu um aperto no coração.
— Você vai embora?
João assentiu.
— Minha nave está pronta. Preciso voltar para casa. Mas nunca vou esquecer o que aprendi aqui. E espero que você cuide deste planeta por mim.
No dia da partida, Leazinha foi até o campo onde a nave de João estava posicionada. Ele a abraçou (um gesto que aprendera com ela) e prometeu que um dia voltaria para ver se as coisas tinham mudado.
— Adeus, Leazinha — disse ele, entrando na nave. — Lembre-se: o verdadeiro tesouro da Terra não está nas estrelas distantes, mas nos pequenos detalhes que você ama tanto.
A nave decolou, deixando um rastro luminoso no céu. Leazinha acenou até que ela desaparecesse completamente.
Daquele dia em diante, Leazinha tornou-se uma defensora apaixonada da natureza. Ela começou a ensinar às crianças da escola sobre a importância de cuidar da Terra e compartilhar as histórias que João lhe contara. Embora sentisse saudades do amigo alienígena, sabia que ele estava certo: a Terra era valiosa demais para ser negligenciada.
E, quem sabe, talvez um dia João voltasse para ver que o coração dos humanos finalmente havia despertado para a imensidão da beleza ao seu redor.


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