Leazinha era uma mulher de sorriso fácil, mas que carregava no olhar a marca de muitas lutas. Desde o nascimento de Bernardo, sua vida girava em torno do filho. Não porque sentisse sacrifício, mas porque encontrava alegria na felicidade dele. Para Leazinha, não havia maior propósito.
Bernardo era um menino sonhador, com olhos curiosos que pareciam sempre buscar algo além do horizonte. Ele amava desenhar e inventar histórias sobre heróis corajosos e mundos mágicos. No entanto, moravam em um pequeno bairro onde as oportunidades eram escassas, e criar condições para alimentar os sonhos do filho exigia mais do que apenas amor — precisava de criatividade e persistência.
Todos os dias, ao sair para trabalhar como faxineira em várias casas da cidade, Leazinha levava consigo uma lista mental: “Hoje preciso comprar lápis de cor novos para o Bernardo.” Ou então: “Amanhã vou pedir à dona Marta se ela tem algum papel grosso para ele usar como tela.” Com pouco dinheiro, improvisava soluções. Transformou caixas de papelão em cadernos de esboços e usava folhas velhas que recolhia nas residências onde trabalhava.
Certa vez, Bernardo chegou saltitando da escola, segurando um panfleto. Era sobre um concurso de arte infantil na cidade vizinha. O vencedor ganharia materiais artísticos completos e uma exposição pública. Seus olhos brilhavam de empolgação, mas também havia um traço de preocupação. “Mãe, é longe… E eu nem sei se meu desenho é bom o suficiente.”
Leazinha sorriu, acariciando seu rosto. “Se você quer, nós vamos até lá. E seu desenho é lindo, meu amor. Você só precisa acreditar.”
Nos dias seguintes, enquanto Bernardo dedicava-se ao trabalho, Leazinha fazia malabarismos para encontrar maneiras de ajudar. Economizou cada centavo para pagar a passagem de ônibus até a cidade vizinha. À noite, quando Bernardo dormia, ela lixava madeira velha para transformar em molduras rústicas para o quadro que ele estava preparando.
Finalmente, chegou o dia do concurso. Apesar da viagem cansativa e do nervosismo, Bernardo entregou seu desenho com orgulho. Um mês depois, receberam a notícia: ele havia sido selecionado entre os finalistas! Leazinha chorou de emoção ao ver o nome de Bernardo na lista. Naquele momento, soube que todos os esforços valeram a pena.
No dia da exposição, Bernardo caminhou pelo salão com um misto de timidez e felicidade. Seu desenho, intitulado O Mundo dos Sonhos, chamava atenção de todos. Embora não tenha ganhado o primeiro lugar, recebeu elogios calorosos e incentivos para continuar desenhando.
Na volta para casa, Bernardo abraçou Leazinha forte. “Mãe, eu nunca vou desistir dos meus sonhos. E tudo isso foi por sua causa.”
Leazinha sorriu, limpando uma lágrima furtiva. “Meu filho, a única coisa que eu quero é ver você feliz. E, enquanto você estiver sonhando, eu estarei aqui, pronta para ajudar.”
E assim continuaram, mãe e filho, construindo juntos um futuro cheio de cores, mesmo diante das adversidades.



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