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Definitivamente

Eu viajei no tempo e busquei respostas para o meu nascimento no início dos anos 1990. De repente, me dei de cara com meu pai, um conservador convicto, tocando pagode com sua turma perguntando aonde estava a barata da vizinha. Me direcionei até aonde estava minha mãe, que nunca foi casada com meu pai e que tinha um nojo inexplicável por ele, mas na época brigava com os seus pais para o vê-lo. Meu avô berrava que meu pai era um playboy que só queria se divertir com ela. Minha avó chorava para minha mãe desistir de vê-lo. O que acontecia? Ambos se viam escondidos em um barzinho que existia na Praia de Iracema. Eles me fizeram numa noite chuvosa, escutando Leandro e Leonardo.

No dia seguinte da minha concepção, minha mãe, que havia ido ver meu pai escondida estava toda feliz, ouvindo Fábio Jr, enquanto meu pai se vangloriava com os amigos por ter “comido” a última virgem do bairro. Minha mãe ainda estava no ensino médio, era uma menina de 16 anos, meu pai, um garoto irresponsável de 17, mas já era estudante de medicina.

Pulei no tempo para ir até perto do meu parto, a máquina travou no dia que minha mãe avisou para meu pai que estava grávida. Primeiro, ela foi expulsa de casa, porque era uma “piranha”. Enquanto que meu pai, ou dizia que ela tinha que abortar (sim, o homem que votou no Bolsonaro por ser contra o Aborto fez esse pedido a minha mãe), ou dizia que era um golpe dela para casar com um cara rico (meu pai era filho de um empresário cheio da grana que morava no Meireles). Ao fim, ela fugiu para casa da minha tia, irmã do meu pai, que a acolheu e disse que eu nasceria sim.

A máquina me levou para quando eu era bebê. Nessa época, meus avôs perdoaram minha mãe e decidiram a acolherem novamente. Minha mãe aceitou o perdão e agradeceu demais minha tia. Já de volta a casa de meus avôs, meu pai tentou comprar minha mãe para não colocar seu nome em mim. Ela ficou revoltada e o escorraçou dali. Alguns meses depois, ele cedeu a pressão de meus avôs paternos e de minha tia, e acabou me registrando, a contragosto da minha mãe, que preferia esquecê-lo, mas foi convencida pela minha tia que meu pai tinha suas obrigações como reprodutor.

Na minha infância, vi como eu era péssimo, e nunca compreendia o fato da minha mãe se virar em mil para cuidar de mim, e eu sempre vangloriava meu pai por me encher de presentes. Eu vi as vezes que ela chorava no colo de meus avôs por eu tratá-la mal, e as inúmeras vezes, que meu pai inventou desculpas horríveis para não me visitar. Eu gritava dizendo que ela que estava inventando. Deu vontade de dar uma mãozada em mim.

Voltei ao meu tempo, abracei minha mãe e chorei horrores em seu colo. Ela ficou sem entender, já que depois da infância, eu fui um filho ótimo. Acho que o conservadorismo exagerado de meu pai exalava a hipocrisia que só na adolescência eu fingia não entender. Minha mãe só errou ao se entregar nos braços daquele falso moralista.

Obviamente, não criei ódio de meu pai. Fui conversar com ele e fui atrás das respostas. Ele me explicou que era um jovem muito irresponsável, que eu não fui o único filho feito ouvindo Leandro e Leonardo. A maioria aceitava a proposta de aborto ou da compra do “nome”. Foi no conservadorismo que ele encontrou respostas para ser mais responsável e evitar que “outros eles” machucassem outras pessoas. O abracei, o perdoei, mas disse que ele exagera ao ser tão rígido com pessoas que não eram tão insanas e irresponsáveis quanto ele.

Definitivamente, o passado tem muitas respostas para os medos do futuro.

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