- _Foi suicídio.
- _Não foi!
- _Foi!
- _Não foi!
E passaram horas nesse coaxar de sapos… - _Mas, se você for parar pra pensar, caro amigo, todos nós nos matamos um dia, pouco a pouco. Cada dia que sobrevivemos, enganamos a morte pelo menos por esse pernoite.
- _Dizem que ele chorou o dia todo pelos carinhos que não recebeu, deu vários telefonemas, quis, com todo o fervor, estar pela última vez ao lado da amante, bebeu, além do que já havia bebido, um litro de whisky, como quem bebe uma cachaça barata e foi, sem cinto de segurança, querendo voar em meio à escuridão ou à claridade, ninguém sabe.
-E você?! Acredita no quê?! - _Acredito que a vida é muito injusta, as pessoas sofrem muito e a solidão como consciência extrema é totalmente cruel, insólita e vulgar!
- _Ouvi falar que foi traumatismo craniano junto com uma insuficiência respiratória…
- _É, de tanto buscar um último ar, pra sair desse sufoco que estava sua vida, bateu a cabeça, caiu de seus sonhos e realmente foi vivê-los.
- _Triste!
- _É sempre assim: a morte tira mais de gente que fica do que de gente que vai embora…
E assim saíram da missa de sétimo dia: sem ter feito a marcha sacra, sem ter cantado em nome de Deus, sem ter dito um amém em nome dos seus, mas com um restinho de infelicidade que a perda da morte, como uma bebida amarga e cara, inevitavelmente dá, com ressacas devastadoras e fígados incuráveis, cuja cura não vai sarar nunca ou sarar amanhã…
Laís Carneiro