RESUMO
Estudos referentes ao trabalho docente no Brasil apontam para um quadro de condições de trabalho precárias, baixos salários, duplas jornadas de trabalho, desprestígio e desvalorização social. Assim, o presente estudo teve como objetivo geral analisar a atividade de trabalho de professoras da primeira fase do ensino público fundamental do município de João Pessoa-PB, na perspectiva de apreender a possível mobilização subjetiva dessas trabalhadoras em um cotidiano adverso de trabalho. Especificamente, buscamos identificar os elementos das condições e formas de organização do trabalho das professoras; apreender as estratégias de regulação dessa atividade e analisarmos as competências que as professoras utilizam para realizar suas atividades. De forma a subsidiar esta análise, recorremos principalmente às contribuições teórico-metodológicas, resguardando as suas diferenças, da Ergonomia da Atividade, da Psicodinâmica do Trabalho, operadas sob a perspectiva ergológica. A operacionalização desse estudo foi desenvolvida a partir da articulação entre diferentes técnicas que possibilitaram emergir a riqueza da atividade industriosa nas situações de trabalho. Para isso, utilizamos observações sistemáticas da atividade, a técnica de instrução ao sósia e principalmente a constituição de comunidades ampliadas de pesquisa (CAPs). A análise dos materiais produzidos foi realizada seguindo a perspectiva dialógica do discurso, a partir das sinalizações do pensamento bakhtiniano. Participaram da pesquisa vinte e cinco professores, sendo um homem e vinte quatro mulheres, todos provenientes de três escolas do ensino público fundamental, com idade variando de 21 a 60 anos. A partir das análises dos materiais produzidos, percebemos que os principais motivos da inserção e formação profissional dessas trabalhadoras no magistério são profundamente marcados pelas relações sociais de gênero e classe. Observamos a naturalização do trabalho docente como um trabalho feminino , o que parece ter implicações na forma de se exercer tal ofício. Com relação às políticas públicas que vêm sendo implantadas nas escolas, percebemos que as professoras as vêem em geral de forma negativa e/ou limitadas, já que estas não mudam efetivamente a realidade das escolas. As docentes relatam que não há uma discussão prévia sobre a implantação dos programas governamentais nas escolas, o que muitas vezes, ao invés de favorecer seu trabalho, tem gerado sobrecarga, o que dificulta a realização de suas atividades. No que tange às condições de trabalho, observamos que estas são inadequadas para o desenvolvimento do trabalho. É visível a desvalorização expressa nos baixos salários e as professoras se queixam que as salas de aula têm acústica e ventilação inadequadas. Além disso, elas se sentem tolhidas pela falta de recursos materiais e no exercício de sua autonomia. Verificamos uma discrepância entre o trabalho prescrito e o trabalho real. As professoras se vêem diante de uma prescrição incapaz de prever a diversidade de situações com as quais se deparam no cotidiano das escolas, e assim desenvolvem diversas formas de regulação da atividade, antecipando e inventando diferentes maneiras de articular-se ao trabalho, a fim de garantir a realização de sua atividade. Apreendemos ainda a engenhosidade da inteligência prática mobilizada pelas trabalhadoras no desenvolvimento de suas tarefas. Verificamos ainda a vivência do não reconhecimento do trabalho das professoras por parte da sociedade, do governo municipal e das direções das escolas, apesar da sinalização do reconhecimento por parte dos alunos e colegas. Percebemos, entretanto, que apesar das dificuldades encontradas nas situações de trabalho, as professoras por intermédio do uso de suas sensibilidades e criatividades, desenvolvem diversas formas de regulação da atividade, dando novas formas ao trabalho e inventando diferentes maneiras de articular-se a ele.
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Autor: Monica Rafaela de Almeida
Ano 2010
Repositório Institucional da UFPB
Referências
ALMEIDA, Monica Rafaela de et al. A atividade de trabalho de professoras de escolas públicas: Ser professor é rebolar. 2010.

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