No fim de tarde dourado, quando o sol se deitava preguiçosamente sobre o mar de Fortaleza, o calçadão da Beira-Mar fervilhava de vida. Crianças corriam, pombos bicavam migalhas, e casais caminhavam de mãos dadas. No meio desse cenário, dois pontos de tensão se destacavam: Leazinha e Bernardo, um casal de namorados há cinco anos, parados diante de uma barraca de coco.
— Três reais? Três reais por um coco? Isso é um assalto! — exclamou Leazinha, as mãos na cintura, os olhos faiscando de indignação.
Bernardo, mais calmo, tentou acalmá-la:
— Amor, é o preço da praia. O pessoal aqui cobra um pouco mais por causa do turismo.
— Turismo? Turismo é pra quem vem de fora! Nós somos cearenses, Bernardo! Isso aqui é casa da gente! — ela rebateu, apontando o dedo para o vendedor, que já começava a suar frio.
A discussão subiu de tom. Leazinha falava em inflação, em exploração, em valores tradicionais. Bernardo argumentava que um coco não era tão caro assim, que podiam dividir um, que não valia a pena estragar o passeio. Mas Leazinha não cedia.
— Se eu pagar três reais por um coco, amanhã será quatro! Depois cinco! E depois vão cobrar até pra respirar o ar da praia!
As vozes ecoavam. Pessoas começaram a parar. Um grupo de turistas tirou foto. Um senhor com chapéu de palha ria baixinho. Uma criança apontou: “Mamãe, aquele casal tá brigando por causa de coco!”
O vendedor, sem saber o que fazer, ofereceu um desconto: dois reais e cinquenta. Leazinha cruzou os braços.
— Agora é questão de princípio!
Bernardo suspirou, olhou ao redor e percebeu que tinham se tornado a atração do calçadão. Gente filmava, comentava, ria. Até um vendedor de pipoca parou para assistir.
— Lea… — ele disse, baixinho — acho que estamos virando piada.
Ela olhou ao redor. Viu os olhares curiosos, as câmeras, o senhor agora imitando sua voz em tom exagerado: “Princípio, Bernardo! Princípio!”
Um silêncio constrangedor caiu entre eles. Depois, Leazinha soltou uma risada nervosa. Bernardo seguiu. Logo, os dois riam alto, sem saber bem por quê.
— Tá bom — disse ela, ainda rindo — dois reais e cinquenta. Mas só porque você pediu com jeitinho.
Bernardo pagou. O vendedor entregou dois cocos com canudo. Eles caminharam devagar, de volta ao calçadão, agora em silêncio, mas com um sorriso no canto da boca.
Ninguém mais os olhava. A atração havia acabado. Mas, enquanto tomavam o líquido doce sob o céu cor de laranja, sabiam que aquela briga boba por três reais seria lembrada por muito tempo — talvez até mais que o próprio coco.


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