Leazinha acordou em cima de uma nuvem, literalmente. Olhou ao redor e viu que o céu era cor-de-rosa, e as nuvens tinham sabor de rapadura de caju. Decidida a explorar, começou a caminhar sobre elas como se fossem trampolins gigantes. Cada pulo a levava mais longe, até que pousou em um trem voador lotado de girafas de óculos.
— Primeira classe, por favor! — disse um cobrador com cara de ata.
Ela pagou com moedas de sorrisos e seguiu viagem. No vagão seguinte, encontrou uma festa surpresa para seu próprio futuro. Havia um bolo de cinco andares feito de meias velhas e um coral de minhocas cantando Raça Negra: “Não Posso Dizer Adeus, se não eu vou chorar, se não eu vou sofrer, eh!”

Ao descer do trem, tropeçou em um buraco que a levou direto para o fundo do mar. Lá, descobriu que peixes sabiam contar piadas ruins. Um atum chamado Jorginho riu tanto com sua própria piada que virou sushi sozinho.
Leazinha nadou até uma ilha flutuante onde os habitantes falavam apenas em rimas. Ela foi eleita rainha por recitar: “Se eu tenho pé, não tenho mão, mas sei dançar igual ao vento no chão.”
No dia seguinte (ou seria à noite?), estava em uma corrida de caranguejos mecânicos na lua. Ganhou o primeiro prêmio: um violão que tocava sozinho sempre que ela pensava em algo engraçado.
Depois, voou em um balão de água quente até uma biblioteca mágica onde os livros mudavam suas histórias conforme seus leitores sonhavam. Leazinha leu um romance que terminou com um foguete casando-se com um pé de jambo.
Quando finalmente se sentou em um banco de praia de cabeça para baixo (porque “assim o mundo faz mais sentido”), tudo escureceu. O universo inteiro pareceu dobrar-se como um papel e sumir.
Acordou assustada em sua cama, suando frio. Era manhã. Sua mãe gritava da cozinha:
— Leazinha, hora de acordar, você vai se atrasar para o trabalho!
Ainda zonza, olhou para o teto e murmurou:
— Será que tudo… foi só um sonho?
Na mesa, tomou suco de manga e olhou para o céu pela janela. Ele estava rosa e as minhocas vieram na mente: “Não Posso Dizer Adeus, se não eu vou chorar, se não eu vou sofrer, eh!”
Leazinha sorriu.
Sonhos são lugares onde tudo é possível.
E ela já queria dormir de novo.



Deixe um comentário