Leazinha acordava todos os dias com o coração batendo no ritmo da trilha sonora de Mulheres Apaixonadas. Só “Imbranato”, ouvia umas mil vezes. Enquanto o café esquentava, já estava diante o Globoplay, enrolada no mesmo cobertor de retalhos que ganhara da avó — e que, segundo ela, “tem a energia de Natasha”. Seu apartamento cheirava a drama: incenso de jasmim, bolo de fubá queimado e saudade de um amor impossível — mesmo que, na vida real, seu amor fosse bem possível: Bernardo, paciente, carinhoso, e cada vez mais incomodado com o som da novela ecoando pelas paredes finas do prédio.
— Leazinha, vamos ao cinema? — perguntou Bernardo, tentando puxá-la pelo braço, enquanto ela assistia, fascinada, pela milésima vez, o primeiro beijo de Catarina e Petrucchio em O Cravo e a Rosa. Até a música do Belo, ela cantava.
Após Bernardo encher muito o saco, Leazinha olhou para ele e disse:
— Bernardo, você é meu favo de mal. Você sabe que isso é verdade. Mas se ficar me enchendo, te jogo um vaso, como faz Catarina.
Bernardo suspirou.
— Mas eu estou aqui, de carne e osso. Não sou um personagem de 2003.
Ela Retrunca:
__ 2000
Na padaria, Leazinha cumprimentou a atendente com um ar dramático:
— “Hoje quem vai me servir é você”
A moça, que já a conhecia, entregou os pa~es e murmurou:
— “É tudo Culpa da Rita!”
Na fila do banco, um homem reclamava da demora. Leazinha virou-se, solene:
— “Are Baba! Essa fila não é brinquedo, não!”
O homem ficou assustado!
Bernardo tentava, de todas as formas, competir com os dramalhões. Comprou ingressos para o teatro, fez jantares românticos, até escreveu uma carta inspirada em Roque Santeiro. Mas Leazinha lia tudo com um olhar distante, como se esperasse um corte para o comercial.
Até que, numa noite de sexta, ele se sentou ao seu lado no sofá, desligou a TV com um gesto firme e perguntou, olhando fundo nos olhos dela:
— Leazinha… você me ama mais do que ama Giuliana e Matteo?
Ela hesitou. O silêncio foi mais longo que um intervalo da BAND. Depois, com lágrimas nos olhos, sussurrou:
— Tu sabe a resposta
Bernardo esperou a continuação.
— E então?
— Meus “amore mios”!
— Eu?
— Giuliana e Matteo!
Bernardo levantou-se, derrotado, enquanto Leazinha trocava de Novela no Globoplay e sorrindo foi assistir Caminho das Índias.
— “Quer leitinho, Abel”, falou ela, caçoando de Bernardo.
O que ele não sabia era que para Leazinha foi Raquel quem matou Odete no remake de Vale Tudo.


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