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Simplesmente Gaiato

Leazinha – A Garota 80’s

Leazinha ajustou os fones de ouvido analógicos, desconectando-se do holograma de notícias que flutuava sobre sua mesa. Em 2025, tudo era touchless, mas ela preferia o clique tátil de seu walkman restaurado. Nascida em 2005, aos 20 anos, ela fugia do que as pessoas de sua idade veneravam. Enquanto amigos mergulhavam em realidade virtual, ela vasculhava brechós em busca de vinis e fitas cassete. Sua obsessão eram os anos 1980, uma década que não viveu, mas que habitava como um fantasma nostálgico.

Naquela tarde, enquanto “(I Just) Died Your Arms” do Cutting Crew ecoava em seus tímpanos, Leazinha encontrou uma caixa embaixo da cama da avó, recém-falecida. Dentro, um envelope amarelado: “Para quem encontrar: a vida é uma playlist. Não pare de acreditar.” A letra era do seu pai, morto quando ela tinha 5 anos. Junto, uma mixtape com a etiqueta “1989: O Último Verão”.

A fita grudou no walkman, mas após um estranho rewind, uma voz surgiu entre os acordes de “Time After Time” da Cyndi Lauper: “Se está ouvindo isso, Leazinha, siga o sinal da torre de rádio abandonada. Há algo que seu velho pai esqueceu no passado.” O coração acelerou. Ele era DJ em uma rádio local nos anos 2000, mas ninguém falava sobre seu segredo: um bunker sob a antiga torre da rádio, que havia fechado as portas em meio à pandemia do COVID. Lá estariam guardadas “relíquias” do século XX.

Enquanto a cidade que se dizia futurista brilhava em neon azul, ela sussurrou a letra de “Your Love” do The Outfield, determinada. A torre, corroída pelo tempo, estava cercada por drones de segurança, visto que em breve, o velho prédio daria lugar a mais um condomínio de 50 andares. Leazinha conseguiu burlar a segurança, deslizou por uma fresta, guiada pelo refrão de “Eye of the Tiger” que martelava em sua mente. No subsolo, encontrou um estúdio intacto: sintetizadores, posters de Madonna e Michael Jackson, e um envelope com a logo da Radio Free 80s. Dentro, um mapa para um “tesouro”: uma cápsula do tempo enterrada em 1989, quando seu pai tinha 15 anos, com mensagens de ouvintes da época, entre elas, a mãe de Leazinha.

A jornada a levou a um parque abandonado, onde um carvalho centenário guardava a cápsula. Enquanto cavava, ouviu passos. Era um garoto de jaqueta de couro falsa — Gael, colecionador de retro games e único membro do clube de vintage da escola. “Vi você saindo da torre. Achei que eu era o único louco que ouvia coisas ‘com fio’”, ele riu, colocando “Don’t You (Forget About Me)” do Simple Minds para tocar em um boombox portátil. Juntos, desenterraram uma caixa com cartas, fotos e um disco de acetato nunca lançado: “Mix para o Futuro”, uma coletânea de músicas inéditas de bandas locais dos anos 1980.

No notebook de Gael, conectaram o disco a um toca-discos. Nas faixas, entre solos de guitarra synth, vozes ecoavam: “Para quem ouvir isso em 2025: a vida era mais simples quando a música nos unia sem algoritmos.” Leazinha chorou. Seu pai havia deixado pistas para que ela encontrasse não apenas o passado, mas sua própria tribo. Gael a abraçou, enquanto “Wild World” de Maxi Priest tocava ao fundo. “Ele sabia que você precisava de uma trilha sonora”, sussurrou.

Na despedida, Leazinha entregou a Gael uma fita com a mixagem que fizeram juntos: “2025: O Primeiro Verão”. Na capa, escreveu: “Where the streets have no name… mas nossos corações têm memória.” Enquanto caminhavam sob o luar, ofuscado pelas luzes da cidade, ela percebeu que os anos 1980 nunca haviam terminado — estavam ali, em cada batida sincera que resistia ao tempo. Afinal, como dizia a fita do pai: “We are the world… e o futuro é só um retrovisor quebrado.”

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