Dexaketo

Simplesmente Gaiato

Leazinha do Vôlei

Desde que se entendia por gente, Leazinha era fascinada pelo vôlei. Aos oito anos, sentava-se no sofá da sala com os olhos vidrados na televisão enquanto assistia às partidas da seleção brasileira feminina. Era apaixonada por Sheila e Jaqueline. Seu pai, um apaixonado por esportes, sempre a incentivava: “Olha só como elas jogam! É pura técnica e coração.” Leazinha via cada movimento, cada salto, cada toque de bola. Sonhava em ser como aquelas atletas que pareciam voar na quadra.

Mas na pequena cidade onde morava, o vôlei não era exatamente uma prioridade. O futebol dominava os campos e as conversas nas praças. Mesmo assim, Leazinha não desistiu. Com uma bola velha encontrada no quintal da vizinha, começou a praticar sozinha no muro da casa. Tentava imitar os saques potentes que via na TV, mas seus braços ainda eram frágeis e a bola quase nunca ia para onde ela queria. Ainda assim, persistia. “Um dia eu vou chegar lá”, dizia para si mesma.

Aos 12 anos, sua vida mudou quando uma professora de educação física percebeu seu talento durante uma aula. “Leazinha, você tem algo especial”, disse a professora, entregando-lhe um panfleto de um clube da cidade vizinha, aonde ela poderia desenvolver o seu vôlei. Era tudo o que ela precisava ouvir. Assim que chegou em casa, implorou o pai para inscrevê-la. Após algumas semanas de treinos intensos, Leazinha já mostrava progresso. Sua determinação impressionava até os treinadores mais céticos.

Os anos seguintes foram de muito suor e sacrifício. Enquanto outras crianças brincavam nos finais de semana, Leazinha estava na quadra, aprendendo sobre posicionamento, bloqueios e recepções. Houve momentos difíceis, é claro. Havia dias em que ela errava tantos passes que pensava em desistir. Mas então lembrava das palavras da treinadora, até nos sonhos: “É pura técnica, mas também muito coração.” E era isso que a mantinha firme – o coração que batia forte toda vez que tocava na bola.

Aos 16 anos, Leazinha foi selecionada para integrar a seleção juvenil estadual, aonde jogaria o seu primeiro CBS – Campeonato Brasileiro de Seleções de Vôlei Feminino. Foi ali que ela realmente começou a entender o que significava ser uma jogadora de vôlei. Não bastava apenas amar o esporte; era necessário disciplina, trabalho em equipe e muita resiliência. Durante os torneios, enfrentou adversárias mais altas, mais experientes e, às vezes, mais habilidosas. Mas Leazinha tinha algo que poucas possuíam: paixão inabalável. Cada ponto conquistado era celebrado como uma vitória pessoal, e cada derrota era vista como uma lição valiosa.

Seu grande salto aconteceu aos 19 anos, quando foi selecionada pelo seu clube, para participar do CBI (Campeonato Brasileiro Interclubes) Sub-21. Foram meses de preparação, acordando antes do sol nascer para correr e treinar antes das aulas na faculdade. Finalmente, o dia da viagem chegou. Leazinha estava nervosa, mas confiante. Sabia que tinha dado o melhor de si até aquele momento. Quando o técnico anunciou que ela seria titular, suas pernas bambearam. Ela mal conseguia acreditar. Tudo pelo que havia lutado estava finalmente se realizando. Ela se destacou tanto no CBI, que foi convidada por um grande clube do país para jogar a Superliga. Ela nem pensou nas dificuldades, apesar aceitou.

Após alguns meses, o seu primeiro jogo como profissional. Leazinha estava ansiosa, mas também empolgada. Sentia-se parte de algo maior, como se estivesse honrando todos os sonhos que teve ao assistir à seleção brasileira na infância. Quando entrou na quadra pela primeira vez, sentiu o peso das expectativas, mas também a força de quem nunca desistiu.

E então chegou o momento tão aguardado: seu primeiro saque oficial como jogadora profissional. Pegou a bola com cuidado, posicionou-se na linha de fundo e respirou fundo. Fechou os olhos por um instante, lembrando-se de todas as vezes em que praticara sozinha no muro, dos treinos árduos e das palavras do pai e da primeira treinadora. Abriu os olhos, olhou para o outro lado da quadra e lançou a bola para o alto.

Com um movimento preciso, acertou a bola com toda a força que conseguiu reunir. O som do impacto ecoou pela arena, e a bola cruzou a rede em alta velocidade, pegando a defesa adversária desprevenida. Ponto para o time dela. Leazinha sorriu, sentindo uma onda de emoção percorrer seu corpo. Não era apenas um ponto; era a prova de que todo o esforço havia valido a pena.

Enquanto seus colegas de equipe a abraçavam, Leazinha olhou para as arquibancadas lotadas. Lá estava seu pai e a professora de educação física que a descobriu, aplaudindo de pé, com lágrimas nos olhos. Naquele momento, ela soube que não importava o que acontecesse dali para frente. Já tinha realizado seu maior sonho: transformar sua paixão em realidade.

E assim, com aquele saque, Leazinha deu início à sua jornada como jogadora profissional, pronta para enfrentar qualquer desafio que surgisse pela frente.

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