Na pequena cidade de Aquarela, onde as oportunidades pareciam escassas como água no verão, vivia Leazinha, uma garota alta e magra que chamava atenção por onde passava. Com seus 13 anos e quase dois metros de altura, ela era alvo constante de piadas e olhares desdenhosos. “Olha aquela girafa!”, gritavam algumas crianças na escola. Outras se referiam a ela como “esquisita” ou “fora do normal”. Apesar disso, Leazinha carregava consigo um sorriso tímido e um coração cheio de sonhos.
Um dia, enquanto voltava para casa depois de mais um dia difícil na escola, Leazinha viu um grupo reunido em frente à quadra comunitária do bairro. Curiosa, aproximou-se e percebeu que havia uma movimentação diferente. Um homem alto, vestindo um uniforme esportivo, falava animadamente sobre algo chamado Projeto Arremesso. Era um programa social criado para incentivar jovens carentes a praticarem basquete e descobrirem talentos escondidos.
“Estamos procurando pessoas com potencial”, disse o treinador, um ex-jogador chamado Bernardo, ao pessoal que tinha um blog que falava sobre as coisas da cidade. Seus olhos percorreram rapidamente a multidão até pousarem em Leazinha. Ele franziu a testa, mas não de forma depreciativa — sua expressão era de curiosidade. “Ei, você ali, alta! Já pensou em jogar basquete?”
Leazinha ficou paralisada. Nunca havia tocado em uma bola de basquete antes, mas sentiu algo dentro dela despertar. Talvez fosse a chance de transformar aquilo que sempre foi motivo de chacota em algo especial. Ela timidamente se aproximou.
Os primeiros dias foram difíceis. Muitos dos outros participantes zombavam dela, dizendo que só estava lá porque era “gigante”. Mas Bernardo logo interveio: “O biótipo dela é ideal para o basquete! Altura, envergadura… essas coisas podem ser abençoadas quando bem aproveitadas.” Ele acreditava nela, mesmo quando Leazinha duvidava de si mesma.
Com paciência e dedicação, Leazinha começou a aprender os fundamentos do jogo. Aprendeu a driblar, a lançar e a bloquear arremessos. Sua coordenação melhorou, assim como sua confiança. E então veio o momento crucial: seu primeiro torneio regional organizado pelo projeto.
No dia da competição, Leazinha estava nervosa. As arquibancadas estavam “lotadas”, e ela podia sentir o peso dos olhares sobre si. Quando entrou em quadra, ouviu alguns risos e comentários maldosos vindos da plateia. Mas, desta vez, algo mudou dentro dela. Lembrou-se das palavras de Bernardo: “Você tem tudo o que precisa para brilhar.”
Logo no início do jogo, Leazinha fez uma defesa espetacular, bloqueando um arremesso rival. A torcida gritou: “Tocooooo!” e aquele gesto marcou o início de sua transformação. Durante todo o jogo, ela mostrou habilidade, agilidade e determinação, marcando pontos importantes para sua equipe, levando a torcida ao delírio. O pessoal do site local, ia à loucura na transmissão pelo Youtube. Ao final, o time do Arremesso venceu por uma diferença mínima, e Leazinha foi eleita a melhor jogadora da partida, a maior pontuadora e dona de triple-double devastador (50 pontos, 22 rebotes e 21 assistências)
A partir daquele dia, tudo mudou. Não apenas para Leazinha, mas também para os moradores de Aquarela. Eles começaram a enxergá-la não como alguém diferente, mas como uma heroína local. O Projeto Arremesso ganhou visibilidade, inspirando outras crianças a acreditarem em si mesmas.
Anos depois, Leazinha tornou-se uma jogadora profissional reconhecida nacionalmente e internacionalmente, tendo passagens marcantes por times do interior paulista e, principalmente, pelo Sampaio Corrêa. Mesmo cearense, virou ídola do esporte maranhense. Seu auge foi na WNBA e em uma participação histórica nos Jogos Olímpicos. Ao ganhar o bronze em Brisbane, passou a ser comparada com nomes como Hortência, Paula, Janeth e Kamilla Cardoso, mas ela sempre, muito pé no chão, não gostava muito das comparações, principalmente, por ser muito fã dessas históricas jogadoras.
Sempre que contava sua história, Leazinha lembrava das dificuldades enfrentadas e do poder de superação que encontrara dentro de si a cada momento ruim, como em lesões, por exemplo. Para ela, o basquete não era apenas um esporte; era o caminho que a ajudou a redefinir quem ela era e a mostrar ao mundo que ser diferente pode ser uma grande vantagem.
E assim, com cada arremesso certeiro, Leazinha continuava provando que o tamanho da luta não importa tanto quanto o tamanho do sonho.



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