Dexaketo

Simplesmente Gaiato

Leazinha e o Boto

Leazinha tinha vinte anos, pele cor de mel e olhos que refletiam o rio Negro quando o sol se punha. Morava em uma vila ribeirinha onde o som das águas era berço, canção e lenda. Desde criança, ouvia histórias do boto-cor-de-rosa — encantador, sedutor, transformista. Diziam que nas noites de festa, ele virava homem bonito, com chapéu branco e sorriso de lua cheia, para conquistar corações ingênuos. E que, ao amanhecer, sumia, deixando apenas saudade… e, às vezes, um filho.

Mas Leazinha não temia. Ria das advertências das velhas. “Histórias pra assustar moça solteira”, dizia, balançando os cabelos ao vento enquanto remava sozinha ao entardecer.

Foi numa dessas tardes que o viu — não como homem, mas como boto. Um salto gracioso, um corpo rosado brilhando sob o sol poente. Ela parou o remo, hipnotizada. Ele voltou. Nadou em círculos ao redor da canoa, como se a convidasse. Nos dias seguintes, sempre estava lá. E Leazinha, cada vez mais, deixava de remar para apenas olhar.

Numa noite de festa ribeirinha, ele apareceu. Alto, de olhos d’água e sorriso misterioso. Vestia terno branco, como na lenda. Dançaram. Riram. Beijaram-se sob as estrelas. Ela sabia quem ele era — e não se importou. “Sou Leazinha”, sussurrou. “E você?” Ele sorriu: “Sou o rio que te chama.”

Ao amanhecer, quando todos esperavam que ele sumisse, Leazinha o segurou pela mão. “Fica.” Ele hesitou — a lenda exigia desaparecer, manter o mistério. Mas o amor dela era mais forte que o encanto. “Então quebremos a lenda”, disse ele, beijando sua testa.

Desde então, viveram escondidos nas margens, entre raízes de samaúma e curvas do rio. Ele, às vezes boto, às vezes homem. Ela, sempre mulher, mas com alma de água. Os ribeirinhos cochichavam: “Leazinha enfeitiçada!” Mas ela sorria, sabendo que o encanto era mútuo.

Não tiveram filhos, como a lenda previa. Tiveram, sim, um amor que desafiou o tempo e o tabu. Nas noites de lua cheia, ainda dançam à beira do rio — ele com seu chapéu branco, ela com os pés descalços na areia molhada. E quando alguém pergunta se têm medo da maldição, Leazinha responde, serena: “O verdadeiro encanto não é o que transforma, mas o que permanece.”

E assim, entre lenda e realidade, Leazinha e seu boto escreveram um novo final — não de fuga, mas de pertencimento. O rio os abraçou. E o amor, proibido pelos homens, foi abençoado pelas águas.

*Conto feito com a ajuda do Qwen

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