Na pequena cidade de São José de Alto Morro, onde o vento faz a curva, vivia Leazinha, uma mulher de mãos calejadas, olhar firme e coração gigante. Há quinze anos, ela montara uma barraca modesta na feira livre do centro, onde vendia roupas usadas, mas bem cuidadas — cada peça lavada com amor, passada com paciência, pendurada com esperança.
Leazinha não tinha diploma. Aos doze anos, deixou a escola para ajudar a mãe, e desde então, sustentava a casa com o suor do trabalho honesto. Mas havia uma coisa que ela carregava com orgulho maior do que qualquer diploma: o sonho de ver sua filha, Luiza, estudando Medicina, não porque ela queria ver a filha doutora, mas a filha queria ser doutora, logo Leazinha fazia de um tudo para sua filha ser o que queria ser.
Luiza cresceu entre provas, livros emprestados e noites em claro. Estudava sob a luz amarelada de uma lâmpada pendurada no teto de chapa, enquanto Leazinha dobrava roupas ao seu lado, sussurrando:
— Você vai chegar lá, minha menina. Eu sei.
A mãe nunca disse isso em voz alta, mas cada gesto dela era um “eu acredito em você”. Cada café feito no meio da noite, cada sandália remendada com prego, cada “não se preocupe, eu como depois” era um ato de amor silencioso, um passo rumo ao futuro. Dinheiro do Bolsa Família, era para custear estudos de Leazinha. Tudo pelo sonho da filha.
E então chegou o dia.
No meio da feira, Leazinha recebeu a notícia mais feliz de sua vida até ali. Era uma mensagem de Luiza:
“Mãe… eu passei. Passei na UFC. Medicina.”
Leazinha leu e releu. Três vezes. Quatro. As letras pareciam dançar na tela. Ela começou a contar para todo mundo ao seu redor. A Dona Maria, que tinha a vizinha de barraca de Leazinha, ouviu umas cem vezes que Luiza havia passado. E então, sem perceber, Leazinha começou a rir. Um riso alto, limpo, que vinha do fundo do peito, como se o coração tivesse explodido de alegria.
Leazinha, quando voltava da feira, abraçou as amigas, contou a notícia com os olhos brilhando. Algumas choraram com ela. Outras rezaram. Uma senhora, Dona Zefa, disse:
— É isso que o Brasil precisa, menina. Um médico que veio da luta.
Mais tarde, Leazinha e Luiza foram até o rio. Sentaram-se na margem, sob uma árvore de mangueira, e ficaram em silêncio por um tempo. O vento balançava os cabelos de Luiza, e o reflexo do sol na água parecia espelhar o brilho nos olhos da mãe.
— Você fez isso, mãe — disse Luiza, baixinho.
— Não, filha — respondeu Leazinha, apertando sua mão. — Você fez. Eu só te segurei pela mão.
E naquele instante, Leazinha soube o que era felicidade verdadeira. Não era o fim da luta, nem o fim da pobreza. Era ver o sonho que ela não pôde viver florescendo nos olhos da filha. Era saber que, mesmo sem diploma, ela havia ensinado o mais importante: que o amor e a persistência podiam mover montanhas.
E enquanto o sol se punha novamente sobre Alto Morro, Leazinha sorriu, certa de que realizar o sonho da filha valeu tudo o que ela lutou.



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