Leazinha acordou assustada. O relógio marcava 7h30. Seu plantão no hospital começava às 8h. Correu para o banho, vestiu a roupa mais próxima que tinha das mãos, uma roupa toda amassada, não tomou café e agarrou a bolsa, torcendo para não encontrar mais engarrafamentos do que o normal, e se mandou para o trabalho.
Ao chegar à parada de ônibus, viu as luzes vermelhas se afastarem na distância. O próximo só viria em vinte minutos. Correu até a esquina, mas o trânsito estava tão intenso que parecia uma pintura impressionista de carros parados.
Desesperada, abriu o Uber. Um após o outro, os motoristas recusavam a corrida. “Muito longe”, “não vou para aquele lugar”, “É dinheiro ou cartão”, “Só faço por Pix, cancelando a viagem do aplicativo”… Em dez minutos, já tinha tentado mais de vinte vezes. Nada!!
Voltou para casa, ofegante. Pensou em ligar dizendo que estava doente, mas nunca havia faltado. Respirou fundo e, com um suspiro derrotado, disse ao telefone que estava com enjoo e febre. A supervisora resmungou, mas aceitou.
Leazinha voltou para a cama, frustrada. Passou o dia rolando na internet, tentando se distrair. Por volta das 14h, o porteiro subiu com uma carta. Era endereçada a ela, com letra caprichada. Estranhou. Não esperava nada.
Abriu o envelope. Era uma carta de uma faculdade renomada. Seu nome estava ali, em letras maiúsculas: Parabéns, Leazinha! Você foi selecionada para a bolsa integral de pós-graduação em Medicina Avançada.
Ficou paralisada. Releu três vezes. Tinha mandado o currículo meses atrás e já havia esquecido. Aquela carta significava tudo: reconhecimento, futuro, realização. E veio justamente no dia em que ela, pela primeira vez, desistiu.
Sentou-se na cama e riu. Uma risada nervosa, quase histérica. Tinha faltado ao trabalho para descobrir que o trabalho era mais do que ela imaginava. Que às vezes, o universo tem um jeito estranho de mostrar que desistir também pode ser um caminho.
Leazinha olhou pela janela. O sol se punha, tingindo o céu de laranja. Guardou a carta no peito, como um segredo precioso. Naquele dia, ela não foi trabalhar. Mas encontrou algo muito maior: uma nova direção.
E, quem sabe, a maior jornada da sua vida.



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