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Simplesmente Gaiato

Leazinha, a Famosa

Leazinha passava os dias empilhando latas de milho e atendendo clientes no supermercado onde trabalhava. Seu uniforme azul-marinho era sempre impecável, mas seus olhos brilhavam com um sonho que ia além das prateleiras: ela queria ser uma estrela da música. Quando ninguém estava por perto, cantarolava trechos de canções populares, principalmente, músicas de Elis Regina e Clara Nunes, enquanto organizava as gôndolas. Seus colegas de trabalho já estavam acostumados, ainda mais Bernardo, seu melhor amigo desde a infância.

“Leazinha, você canta tão mal que até os carrinhos de compras fogem de você”, ele dizia, rindo. “Mas eu te apoio porque é impossível não gostar de você.”

Ela fazia beicinho fingindo se ofender, mas sabia que Bernardo tinha razão. Sua voz desafinada ecoava pelos corredores do supermercado como uma sirene fora de controle. Mesmo assim, Leazinha não desistia. Toda noite, depois do expediente, ela praticava em frente ao espelho, convencida de que sua chance chegaria.

O destino resolveu dar uma mãozinha quando Luiza, amiga de Leazinha e babá dos filhos do empresário João, mencionou casualmente o sonho da amiga durante uma conversa banal com seu chefe. Curioso, João pediu para conhecer a “cantora”. Luiza sorrindo, falou com Leazinha, quase imediatamente, pelo Whatsapp. Na semana seguinte, Leazinha foi convidada para uma reunião em um café chique da cidade.

João era um homem sério, de terno impecável e olhar analítico. Ele ouviu Leazinha cantar – e quase caiu da cadeira. Luiza estava certa; ela era péssima. Mas havia algo ali. Algo inexplicável. Leazinha irradiava charme, beleza e uma energia contagiante que prendia a atenção, mesmo que os ouvidos doessem. João viu potencial onde outros só enxergariam fracasso.

“Você tem algo diferente, Leazinha”, disse ele após alguns minutos em silêncio. “Vamos transformar isso em sucesso.”

Com marketing agressivo e estratégias ousadas, João lançou Leazinha como a nova sensação pop brasileira. A princípio, as críticas foram devastadoras. Jornalistas a chamavam de “desastre musical” e “prova viva de que nem todo mundo deveria cantar”. No entanto, o público começou a adorá-la. Suas apresentações eram espetáculos visuais impressionantes, cheios de figurinos extravagantes e coreografias bem ensaiadas. As pessoas começaram a gravar vídeos dela nos shows, compartilhando nas redes sociais com hashtags como #ForçaLeazinha e #CantandoComCoragem.

Logo, Leazinha estava em todos os lugares: comerciais de TV, capas de revistas, programas de entrevistas. Ganhou diversos prêmios, como artista revelação e cantora do ano. Ela estava oficialmente famosa. E tudo isso sem dublar – suas apresentações eram genuínas, desafinadas e absurdamente cativantes.

João ficou rico com os lucros gerados pela carreira meteórica de Leazinha, elaborando contratos bem “generosos” para ele e Leazinha. Bernardo e Luiza tornaram-se seus assessores especiais, ajudando-a a navegar pelo turbilhão de compromissos e eventos. Juntos, formavam uma equipe inseparável.

Enquanto celebrava seu primeiro Grammy Latino (numa categoria criada especialmente para artistas inovadores), Leazinha olhou para a plateia e viu seus amigos aplaudindo de pé. Ela sorriu, sabendo que, às vezes, o talento tradicional não importa tanto quanto a capacidade de conquistar corações e mentes.

E assim, Leazinha provou que, no mundo moderno, nem sempre é preciso ser bom para ser amado – basta está no lugar certo na hora certa, muita determinação e alguém que acredite em você.

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