Bernardo era um entregador do iFood que, com sua moto velha e camisa suada, enfrentava o caos da cidade todos os dias. Trabalhava de lua à lua, mas sempre mantinha um sorriso no rosto. Seu ponto de partida era a pizzaria Bella Vita, onde Leazinha, a atendente do balcão, registrava seus pedidos com olhos brilhantes disfarçados de profissionalismo.
Tudo mudou quando Bernardo conheceu Luiza. Alta, loira, rica e irônica, ela fazia pedidos caros e sempre deixava gorjetas exageradas. Dizia frases como “você merece mais do que isso” enquanto pegava a pizza, e Bernardo se perdia nela. Começou a se arrumar melhor, comprar roupas novas, até pensar em sair do iFood. Luiza virou seu sonho.
Leazinha notava cada mudança. Via Bernardo suspirar ao ver o nome de Luiza nos pedidos, ouvia ele mencionar casualmente as conversas que inventava terem tido. Ela sorria, como sempre, mas por dentro, sentia o coração apertado. Todos os dias, repetia: “Pedido para Luiza, entrega sua.” E Bernardo corria como se fosse uma missão divina.
Certa noite, uma chuva forte cobria a cidade. Último pedido do dia: Luiza, novamente. Bernardo pegou a pizza e partiu sob a tempestade.
Ao chegar ao prédio de Luiza, foi recebido pelo porteiro. Ninguém atendeu. Após chamar várias vezes, uma vizinha disse que Luiza viajara. Sem despedidas. Sem mensagens.
Bernardo voltou pra casa molhado, triste, com a pizza morna nas mãos. No dia seguinte, não logou no ifood, não pegou sua moto, ficou sozinho em casa, chorando.
Na pizzaria, Leazinha chegou cedo. Com o caminhar da noite, percebeu que Bernardo não iria vir, então, fechou os olhos e respirou fundo. Tirou do bolso uma carta escrita há meses, mas nunca entregue:
“Bernardo, toda vez que você sai por aquela porta, levo um pouco de você comigo. Não sei se é amor, ou só saudade antecipada. Mas se quiser voltar… eu estou aqui.”
No dia seguinte, Bernardo apareceu, sem capacete, cabelo bagunçado. Leazinha levantou os olhos, assustada. Ele sorriu, tímido:
— Hoje… posso ficar aqui? Sem fazer entregas, apenas te vendo.
Ela respondeu com os olhos marejados:
— Sempre pode.
Luiza queria pizzas grátis, enquanto Leazinha queria o amor daquele entregador, que só ela achava lindo.
O que aconteceu daqui em diante, só o destino dirá.


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