Leazinha tinha 15 anos e um caderno cheio de anotações científicas. Enquanto outras meninas da sua idade se preocupavam com festas e celebridades, ela passava horas mergulhada em artigos científicos, buscando respostas para doenças que assolavam o mundo. Foi num desses estudos solitários que descobriu uma combinação molecular capaz de atacar vírus e bactérias sem agredir as células humanas — algo que poderia mudar a medicina para sempre.
Mas em casa, ninguém a levava a sério. Sua irmã mais velha, Luiza, era o centro das atenções. Com um discurso inflamado e uma rede de influência nas redes sociais, pregava uma fé rígida e condenava publicamente quem não compartilhava de suas crenças. Seus pais, orgulhosos, elogiavam cada palavra dela, enquanto chamavam Leazinha de “deslocada”, dizendo que ciência era coisa de gente perdida.
Na escola, os colegas também zombavam. Chamavam-na de “laboratoriana”, “doida por tubos de ensaio”. Até mesmo professores duvidavam de seus projetos, achando que uma garota daquele jeito quieto jamais poderia ter ideias tão revolucionárias.
Mesmo assim, Leazinha seguiu em frente. Trancou-se em bibliotecas, escreveu e-mails para pesquisadores do mundo inteiro, enfrentou portas fechadas até que uma delas se abrisse. Aos 23 anos, seu trabalho já era referência mundial. E aos 28, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina.
No dia da cerimônia, entre aplausos e flashes, ela olhou para a plateia e viu seus pais, emocionados, pela primeira vez reconhecendo seu valor. Luiza, no entanto, não estava lá. Tornara-se uma espécie de líder religiosa, de um gigantesca congregação criada por ela mesma, vendendo livros e curas milagrosas, acumulando fortuna às custas da desesperança alheia.
No dia que recebeu o Nobel, Leazinha subiu ao palco, pegou o prêmio e disse:
“Hoje, a ciência é celebrada. Mas antes de brilhar, ela foi rejeitada, ridicularizada, chamada de fria. Mas a ciência salva vidas. A fé é linda, desde que não seja usada como objeto de enriquecimento ilícito. Que este prêmio lembre ao mundo que precisamos de ambas: respeito à razão e compaixão pelo próximo.”
E assim, a menina que um dia foi motivo de piada tornou-se luz para milhões, enquanto a outra seguiu sua sina de trambiqueira espiritual.


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