Dexaketo

Simplesmente Gaiato

Apaixonada por um Gay

Leazinha tinha 16 anos, olhos castanhos que brilhavam demais quando sorria e um coração que batia rápido demais perto de Bernardo. Ele era o garoto mais quieto da sala, sempre sentado na última fila, com um caderno cheio de desenhos nas margens e uma voz tão baixa que parecia um segredo do mundo.

Ela o observava de longe, tentando encontrar coragem para falar com ele. Em cada aula, em cada recreio, Leazinha inventava diálogos mentais, frases perfeitas que nunca saíam do papel. Toda vez que passavam um pelo outro no corredor, ela abaixava os olhos e se xingava mentalmente por não ser mais ousada.

Bernardo era distante dos outros. Parecia viver em outro universo, onde as palavras eram raras e as emoções, contidas. Isso só aumentava o fascínio de Leazinha. Ela colecionava detalhes dele como quem guarda tesouros: o jeito como ele arrumava os cabelos, como ria baixinho das piadas dos outros, como escrevia com letra caprichosa.

Certa tarde, num momento de coragem roubada, Leazinha decidiu que iria se declarar. Escreveu uma carta linda, confusa, sincera — e guardou-a no bolso o dia todo. No fim das aulas, ao encontrá-lo saindo da biblioteca, quase a entregou. Mas travou. Sorriu sem graça e disse apenas “oi”. Ele respondeu com seu típico meio sorriso e foi embora.

Na semana seguinte, na festa de aniversário de uma colega, Leazinha viu algo que mudaria tudo: Bernardo estava beijando um menino de outro colégio. Eles trocavam olhares que ela conhecia bem — aquele mesmo brilho que ela sentia dentro de si toda vez que pensava nele.

No início, doeu. A paixão é assim: cega e teimosa. Mas Leazinha logo percebeu que a dor vinha mais da frustração do que do amor em si. E, surpreendentemente, isso não a afastou. Pelo contrário: aproximou-os.

Ela resolveu conversar com ele abertamente. Contou sobre seus sentimentos com honestidade, sem cobranças. Bernardo ficou vermelho, gaguejou, pediu desculpas, mas também sorriu — um sorriso sincero.

A partir daí, nasceu uma amizade verdadeira. Bernardo compartilhava suas inseguranças, seus sonhos; Leazinha aprendia a admirá-lo de outra forma, mais leve, mais pura. Sua paixão virou cuidado, torcida, carinho sem expectativas.

E nessa nova versão do sentimento, Leazinha descobriu algo precioso: nem toda história de amor precisa ser correspondida com beijos e carícias para ser linda. Às vezes, basta existir para ensinar algo valioso sobre o coração.

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