Dexaketo

Era uma tarde ensolarada quando Leazinha e Luiza, duas amigas inseparáveis de 10 anos, decidiram explorar o quintal do Seu Bernardo. O velho vizinho era conhecido por sua rispidez e pelo cuidado extremo com seu jardim, mas as meninas estavam curiosas. Tinham ouvido boatos de que ele guardava um “tesouro secreto” enterrado ali.

Escondidas atrás da cerca de madeira, observaram o momento em que Seu Bernardo saiu para fazer compras. Com corações acelerados, escalaram a cerca e começaram a vasculhar o local. Não demorou muito para encontrarem algo: uma pequena caixa enferrujada enterrada sob uma árvore frondosa. Sem pensar duas vezes, desenterraram-na e fugiram de volta ao quintal de Leazinha.

Dentro da caixa, havia apenas um caderno antigo, com páginas amareladas e escritas à mão. As meninas se entreolharam, confusas. Era isso o tesouro? Folheando as páginas, perceberam que se tratava de um diário detalhando histórias de amor, perdas e sonhos não realizados. Era como se fosse um pedaço da alma de Seu Bernardo.

Naquela noite, enquanto repensavam sobre o que tinham feito, sentiram um peso crescente. A invasão e o roubo pareciam errados agora. No dia seguinte, retornaram ao quintal do vizinho, devolveram a caixa e deixaram um bilhete pedindo desculpas.

Seu Bernardo nunca falou sobre o incidente, mas, semanas depois, surpreendeu as meninas com dois sorvetes e um sorriso raro. Talvez ele tivesse entendido que, às vezes, até mesmo os adultos precisam aprender com as crianças sobre o valor das segundas chances.