Leazinha estava presa em um labirinto de indecisões. De um lado, Bernardo: um homem gentil, que a olhava como se ela fosse a única estrela no céu. Ele era previsível, seguro e apaixonado — até demais. Seus gestos eram carinhosos, seus bilhetes manuscritos cheios de poesia, e ele sempre sabia o que dizer quando ela precisava de conforto. Mas Leazinha sentia algo faltando. O coração dela não disparava ao ver Bernardo; ela não experimentava aquele frio na barriga que as músicas cantavam.
Do outro lado havia João, o oposto de tudo que Bernardo representava. João era enigmático, distante e perigosamente irresistível. Ele era exatamente o tipo que Leazinha admirava: charmoso, criativo e com aquele ar de mistério que fazia qualquer pessoa querer desvendá-lo. Ela corria atrás dele, enviava mensagens, tentava aparecer nos lugares onde ele estaria, mas ele sempre parecia estar um passo à frente. Era frustrante, mas também viciante. Havia algo excitante em ser rejeitada e, ainda assim, persistir.
Enquanto isso, Luiza observava tudo de longe. Melhor amiga de Leazinha desde a infância, ela conhecia cada detalhe da história. Sabia das noites em que Leazinha chorava por causa de João e das manhãs em que sorria por causa de Bernardo. Luiza escutava pacientemente, dava conselhos equilibrados e, mesmo quando seu coração apertava de ciúmes, mantinha-se firme ao lado dela.
“Você já pensou no que realmente quer?” Luiza perguntou certa vez, enquanto tomavam café juntas. “Ou está só tentando escolher entre o que eles oferecem?”
A pergunta ecoou na mente de Leazinha por dias. Talvez fosse isso: ela buscava pedaços de si mesma refletidos em dois homens diferentes, mas nenhum deles a completava. Enquanto Bernardo lhe dava estabilidade, João despertava sua paixão. No entanto, ambos deixavam lacunas que ela não conseguia preencher sozinha.
Foi durante uma festa que tudo mudou. Leazinha tinha acabado de receber mais uma mensagem ambígua de João e estava prestes a ligar para Bernardo quando percebeu Luiza sentada no sofá, olhando para ela com uma expressão que misturava preocupação e ternura. Elas trocaram olhares por alguns segundos antes de Luiza finalmente falar:
“Você merece alguém que te veja inteira, Lea. Alguém que não precise escolher entre partes suas. Alguém… como eu.”
As palavras pairaram no ar, pesadas e inesperadas. Leazinha sentiu o chão sumir sob seus pés. Nunca havia considerado aquela possibilidade. Não porque não amasse Luiza, mas porque sempre assumira que seu amor por ela era diferente — platônico, fraternal. Mas agora, olhando nos olhos da amiga, percebeu que talvez nunca tivesse entendido direito o que era amor.
Os dias seguintes foram caóticos. Ela parou de correr atrás de João, ignorou as mensagens de Bernardo e mergulhou em conversas profundas com Luiza. Descobriram que compartilhavam sonhos semelhantes, medos idênticos e risadas que pareciam infinitas. Juntas, começaram a explorar algo novo, algo que nenhuma delas esperava.
No fim, Leazinha escolheu Luiza. Não porque desistiu de buscar ou porque cansou dos jogos de João e da segurança de Bernardo, mas porque percebeu que o amor verdadeiro não é sobre encontrar metades fora de você. É sobre reconhecer quem já está ao seu lado, pronto para construir algo inteiro com você.
E, pela primeira vez, Leazinha sentiu que seu coração estava completo.



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