O sol brilhava suavemente sobre o jardim decorado com flores brancas e verdes, enquanto Leazinha ajustava o vestido azul-claro de madrinha. Ela sorria, mas algo em seu peito parecia pesado. Bernardo estava prestes a se casar com Luiza, a mulher que ele conheceu graças a ela mesma. Foram tardes de conversa entre os três no café da esquina, risadas compartilhadas — momentos que Leazinha sempre achou especiais. Até aquele instante.
Quando Bernardo apareceu ao lado do altar, olhos fixos na entrada onde Luiza surgiria, Leazinha sentiu um aperto inexplicável. Seus olhos marejaram sem aviso. “Por que estou assim?”, pensou, confusa. Afinal, ela era a melhor amiga dele, sua cúmplice em tudo. Como poderia sentir aquilo agora?
João, o padrinho, notou a mudança nela antes mesmo de Luiza entrar. Ele se aproximou discretamente enquanto as portas da igreja se abriam para a noiva. “Leazinha, você está bem?”, sussurrou, preocupado. Ela assentiu rapidamente, tentando disfarçar.
Mas então aconteceu: quando os olhos de Bernardo encontraram os de Luiza, Leazinha percebeu. Percebeu que tudo o que sentia por ele não era apenas amizade. Era amor. Um amor profundo, antigo, escondido sob anos de companheirismo e cumplicidade. E agora era tarde demais.
Ela balançou a cabeça, como se quisesse afastar o turbilhão de emoções. Não podia estragar o momento de Bernardo. Não devia. Mas seus pés pareciam mover-se contra sua vontade. João a segurou pelo braço, firme. “Não faça isso”, murmurou, sério. “Você sabe o quanto ele ama Luiza.”
As palavras de João ecoaram dentro dela. Sim, ele amava Luiza. Leazinha respirou fundo, tentando recuperar o controle. Talvez fosse egoísmo pensar em si mesma naquele momento tão importante para Bernardo.
A cerimônia continuou, e quando chegou a hora dos votos, Leazinha já havia decidido. Guardaria esse segredo para sempre. Sorriu para Bernardo durante toda a troca de alianças, mesmo que cada batida do coração doesse.
No final, enquanto todos aplaudiam o novo casal, João colocou a mão em seu ombro. “Você fez a coisa certa”, disse baixinho. Leazinha apenas assentiu, sabendo que, embora tivesse perdido Bernardo, ainda tinha sua amizade — e talvez fosse o suficiente.
Ela lançou um último olhar para o casal feliz e permitiu que uma lágrima silenciosa rolasse por sua bochecha.



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