Leazinha sempre evitou espelhos. Não era vaidade, mas medo. Medo de encarar o reflexo que parecia confirmar tudo o que as vozes ao seu redor diziam: “Você é feia”, “Nunca vai ser como a gente”. Aos 16 anos, ela aprendeu a se esconder — dos olhares julgadores das amigas, dos comentários cruéis nas redes sociais e, principalmente, do próprio rosto no vidro.
Seu cabelo cacheado, que ela adorava quando criança, tornou-se um peso. As sardas no nariz, antes motivo de orgulho, agora pareciam defeitos gritantes. Ela baixava os olhos quando passava por vitrines e vestia roupas largas para desaparecer. Leazinha vivia à sombra da opinião alheia, aceitando sem questionar que não era boa o suficiente.
Até que Luiza chegou.
Luiza era nova na escola, com um jeito tranquilo e seguro que chamava atenção. Ela notou Leazinha no intervalo, sentada sozinha num canto do pátio, enquanto outras garotas cochichavam e riam à distância. Sem hesitar, sentou-se ao lado dela.
— Ei, você é a Leazinha, né? Eu sou Luiza.
Leazinha assentiu, surpresa. Ninguém nunca havia se aproximado assim antes. Conversaram sobre coisas simples até que, certo dia, Luiza perguntou:
— Por que você nunca olha no espelho?
A pergunta a pegou desprevenida. Gaguejando, Leazinha confessou seu medo, as palavras escapando em uma avalanche de dor reprimida. Luiza ouviu em silêncio, depois sorriu.
— Quer saber? Essas pessoas estão erradas. Você é linda. Mas só vai perceber isso quando parar de ouvir o que elas dizem e começar a confiar no que você sente.
No início, Leazinha resistiu. Como poderia acreditar em si mesma depois de tanto tempo sendo derrubada? Mas Luiza insistiu, mostrando-a fotos antigas, lembrando-a das qualidades que todos ignoravam. Juntas, enfrentaram as meninas que faziam bullying, com Luiza ao lado, firme e corajosa.
Um dia, Luiza a levou diante de um espelho grande no banheiro da escola.
— Olha — disse, segurando suas mãos. — Não é o reflexo delas. É o seu.
Relutante, Leazinha ergueu os olhos. Viu uma garota com traços únicos, olhos expressivos e um sorriso tímido começando a surgir. Era ela. Linda. Real.
As lágrimas escorreram pelo rosto de Leazinha enquanto algo dentro dela se libertava. O medo foi substituído por gratidão — por Luiza, por si mesma e pela chance de recomeçar.
Daquele dia em diante, Leazinha fez as pazes com o espelho. E, aos poucos, também consigo mesma.


Deixe um comentário