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Leazinha, a Viajante

Leazinha sempre foi uma mulher de sorriso fácil e coração quente, mas por anos sua vida foi moldada pelas expectativas alheias. Aos 40 anos, ela finalmente se permitiu respirar. Após duas décadas casada com Otávio, um homem controlador que acreditava que o lugar de uma mulher era em casa – sem visitas à família, sem sair com amigos, sem aventuras – Leazinha decidiu romper as correntes invisíveis que a prendiam.

O divórcio veio como um terremoto, mas também como uma libertação. No início, ela sentia medo do desconhecido. Tudo parecia tão grande e intimidador quanto um oceano infinito. Foi então que, em meio a caixas de lembranças antigas, Leazinha encontrou um guia turístico amarelado da Europa. Era algo que ela havia comprado anos antes, sonhando secretamente com Paris e suas ruas charmosas. Otávio rira ao vê-la com o livro nas mãos, dizendo que “viajar era perda de tempo”. Mas agora, pela primeira vez, Leazinha pensou: Por que não?

Seu primeiro destino foi Lisboa. Ela economizara cada centavo para aquela viagem, planejando tudo sozinha. Quando pisou no chão ladrilhado da Praça do Comércio e sentiu o cheiro salgado do Tejo, algo dentro dela floresceu. Pela primeira vez, ela entendeu o que significava ser livre. As pessoas ao redor viviam intensamente, compartilhando histórias, risadas e comida. Aquela energia era contagiante.

De lá, vieram Barcelona, Roma, Berlim, Praga. Cada cidade era uma nova página escrita em seu caderno de anotações, onde desenhava mapas improvisados e registrava sensações. Em Amsterdã, aprendeu a andar de bicicleta; em Istambul, experimentou especiarias que tingiram sua língua de sabores inéditos. Conheceu estranhos que se tornaram amigos, e cada abraço trocado era uma confirmação de que o mundo era muito maior do que os muros que Otávio tentara construir ao seu redor.

Leazinha descobriu que viajar não era apenas sobre conhecer lugares novos, mas sobre redescobrir a si mesma. Aos 40 anos, ela percebeu que nunca era tarde para reinventar a própria história. Hoje, suas malas estão sempre prontas, e seus olhos brilham quando fala sobre os próximos destinos. O controle obsessivo de Otávio ficou para trás, substituído pelo vento fresco das montanhas suíças ou pelos cantos melancólicos dos fados portugueses.

Leazinha não é mais aquela mulher que se escondia atrás de cortinas fechadas. Agora, ela corre em direção ao horizonte, sabendo que cada passo dado é um presente para a alma. E, enquanto caminha, ela ensina outras mulheres que, independentemente da idade, é possível encontrar liberdade nos quilômetros rodados e nas memórias colecionadas.

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