Leazinha sempre foi uma garota reservada, do tipo que preferia passar horas lendo em um canto da biblioteca a participar das rodas de conversa na escola. Aos 17 anos, ela carregava consigo uma carga invisível: o peso do sobrenome. Seu pai, Deputado Estadual Rômulo Alves, era conhecido não apenas por seu discurso inflamado nos palanques, mas também pelos escândalos de corrupção que frequentemente estampavam as manchetes dos jornais.
A vergonha começou cedo para Leazinha. Na escola, os colegas faziam piadas sobre “dinheiro sujo” e “herança política”. Ela fingia não ouvir, mantendo a cabeça baixa enquanto caminhava pelos corredores. Mas as palavras eram como agulhas fincadas em sua pele, impossíveis de ignorar completamente. Quando alguém perguntava sobre sua família, ela inventava desculpas vagas ou mudava rapidamente de assunto. Não queria ser associada àquela imagem pública do pai – um homem cujas promessas vazias e gestos teatrais pareciam esconder um abismo de má conduta.
O ápice da humilhação veio durante uma apresentação escolar. O tema era “ética e responsabilidade social”. Enquanto outro aluno discursava sobre transparência no governo, ele citou, sem nomear diretamente, casos recentes envolvendo políticos corruptos. Todos sabiam que estava falando do pai de Leazinha. Risos abafados surgiram na sala, e alguns olhares se voltaram para ela. Sentindo o rosto queimar, Leazinha abaixou a cabeça, tentando se tornar invisível. Queria gritar que ela também repudiava as ações do pai, que sentia vergonha profunda dele, mas as palavras ficaram presas na garganta.
Em casa, ela evitava confrontá-lo. Sabia que seria inútil; ele simplesmente justificaria seus atos com frases prontas sobre “sobrevivência na política” ou “jogo sujo dos adversários”. Sua mãe, indiferente, parecia mais preocupada com eventos sociais e status do que com qualquer coisa remotamente ética. Leazinha se sentia sozinha, aprisionada entre o desejo de defender seus princípios e o medo de ser julgada ainda mais.
Uma noite, após ler um artigo sobre jovens ativistas lutando contra a corrupção, algo dentro dela mudou. Decidiu que não deixaria o legado do pai definir quem ela era. Começou a se engajar em causas sociais, organizando debates sobre transparência e justiça em sua escola. Embora hesitante no início, aos poucos ganhou confiança. Descobriu que sua voz podia ser usada para algo maior do que o silêncio envergonhado que costumava adotar.
No fim, Leazinha aprendeu que, mesmo sendo filha de um deputado corrupto, ela tinha o poder de traçar seu próprio caminho. E esse caminho seria marcado não pelo sobrenome que carregava, mas pelas escolhas que fazia.



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