Bernardo sempre foi um rapaz solitário. Aos 22 anos, vivia em uma pequena casa à beira de uma estrada de terra, cercada por campos verdejantes e silêncio. Seu único companheiro era o vento que soprava pelas frestas das janelas. Até que, numa manhã nublada, algo mudou.
Enquanto caminhava pela trilha que levava ao riacho, Bernardo ouviu um som fraco, quase imperceptível. Parou e aguçou os ouvidos. O som vinha de dentro de um arbusto próximo. Ele se aproximou com cuidado e encontrou uma cadelinha magra, coberta de lama, tremendo de frio e medo. Ela olhou para ele com olhos grandes e suplicantes, como se pedisse ajuda.
Sem hesitar, Bernardo a pegou no colo. Seu coração já estava cativado. Ele a levou para casa, deu-lhe água, comida e a envolveu em um pano quente. Dias depois, quando ela já parecia mais saudável e confiante, Bernardo decidiu nomeá-la: “Leazinha”, disse, sorrindo enquanto ela balançava o rabo em aprovação.
A chegada de Leazinha transformou a vida de Bernardo. Ela o seguia para todos os lugares: aos campos onde ele lia seus livros, às margens do riacho onde pescava e até mesmo ao mercado da vila, onde as pessoas começaram a notar o jovem tímido acompanhado por uma cadela alegre e carismática. Leazinha tinha um jeito especial de alegrar os dias cinzentos, lambendo as mãos de Bernardo nos momentos de solidão e latindo animada ao ver um passarinho.
Com o tempo, Bernardo percebeu que não estava mais sozinho. Leazinha havia preenchido os espaços vazios de sua vida com amor incondicional e lealdade. Eles se tornaram inseparáveis, dois corações unidos por uma amizade pura e simples.
Num entardecer dourado, enquanto caminhavam juntos pelo campo, Bernardo olhou para Leazinha e pensou: talvez a felicidade não precise de grandes explicações. Às vezes, basta um olhar compartilhado, um latido feliz e a certeza de que você tem alguém — humano ou não — que o ama sem reservas.


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