Era uma tarde cinzenta na pequena praça do bairro, onde Bernardo costumava sentar para ler os jornais velhos que guardava em casa. Aos 35 anos, ele ainda carregava consigo as memórias da adolescência, especialmente aquela que nunca conseguiu esquecer: Leazinha. Ela havia sido sua vizinha, a garota dos olhos brilhantes e riso fácil, com quem passara tardes inteiras conversando sobre sonhos e desejos. Mas tudo mudou quando ela se mudou para a capital aos 16 anos. Desde então, Bernardo seguiu a vida, mas sempre com um vazio silencioso.
Naquela tarde específica, enquanto folheava distraído as páginas amareladas de um romance antigo, ouviu uma voz familiar atrás de si.
— Bernardo? É você?
Ele ergueu os olhos e, por um momento, pensou estar sonhando. Ali estava Leazinha – agora mais madura, com traços marcados pela experiência, mas ainda com aquele sorriso encantador que o deixava sem fala.
— Leazinha? — murmurou ele, levantando-se devagar. — Não acredito…
Ela riu, nervosa, e explicou que estava de volta à cidade para cuidar da mãe idosa. O destino, no entanto, parecia ter outros planos. Nos dias seguintes, eles começaram a se encontrar casualmente, primeiro na padaria da esquina, depois na livraria onde Bernardo comprava seus romances usados.
Conversavam como se o tempo não tivesse passado. Contaram histórias das suas vidas adultas: Bernardo falou sobre seu trabalho modesto como contador e sua paixão por literatura; Leazinha contou sobre sua carreira frustrada como designer gráfica e o casamento breve que terminara anos antes.
Certa noite, durante um passeio pelo parque, Leazinha parou sob um poste de luz e olhou para Bernardo com intensidade.
— Sabe, eu sempre me perguntei… será que poderíamos ter vivido algo diferente?
Bernardo hesitou, mas logo respondeu:
— Talvez tenhamos perdido nosso momento na adolescência, mas isso não significa que seja tarde demais.
Ela sorriu, e ele tomou coragem para segurar sua mão. Dessa vez, nenhum deles permitiria que o medo ou a distância os separasse novamente. Decidiram começar de onde haviam parado, construindo juntos um futuro que, embora tardio, prometia ser repleto de amor verdadeiro.
Assim, Bernardo e Leazinha aprenderam que o coração guarda espaço para os encontros certos, mesmo que eles demorem décadas para acontecer.



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