Dexaketo

Leazinha sempre se destacou de maneira discreta. Seus cachos loiros e curtos dançavam no ritmo do vento enquanto ela caminhava pelos corredores da escola, tentando passar despercebida. Aos 17 anos, era aquela garota introspectiva que preferia observar o mundo a ser observada. Mas tudo mudou quando Bernardo entrou em sua vida.

Bernardo era a personificação da popularidade. Alto, moreno, com músculos definidos e um sorriso capaz de iluminar qualquer ambiente sombrio, ele era o centro das atenções no colégio. Entre conversas casuais e olhares trocados nos intervalos, algo floresceu entre os dois. Ele a notou, e isso bastou para que Leazinha sentisse seu coração disparar.

No início, parecia um sonho. Bernardo, apesar de toda a fama, mostrou-se gentil e carismático com ela. Conversavam por horas sobre música, filmes e até mesmo sobre seus receios mais profundos. Quando ele segurou sua mão pela primeira vez, ela soube que estava apaixonada. E quando aconteceu — naquela noite mágica sob as estrelas, dentro do carro dele, onde Leazinha entregou sua virgindade a alguém pela primeira vez —, ela jurou que seria eterno.

Mas o destino gosta de pregar peças cruéis.

Tudo veio à tona semanas depois, em uma tarde ensolarada que tornou-se cinza para Leazinha. Ela ouviu, sem querer, uma conversa entre Bernardo e Enzo, o melhor amigo dele. Estavam rindo alto perto dos armários do colégio. “Num é que tu conseguiu! O cabra é comelão mesmo!,” disse Enzo, dando tapinhas nas costas de Bernardo. “Nunca foi tão fácil comer uma menina! Boba demais, caiu fácil! Também, doida para provar do meu Lester”

O chão pareceu desmoronar debaixo dos pés dela. Cada palavra soou como uma faca cortando sua alma. Toda aquela paixão, todas as promessas sussurradas ao pé do ouvido… não passaram de um jogo cruel. Ele nunca a amou; tudo fora manipulação. O peso da humilhação foi esmagador.

Leazinha terminou com Bernardo na mesma tarde, confrontando-o com lágrimas escorrendo pelo rosto. Ele tentou se explicar, pedir desculpas, mas já era tarde demais. Nenhuma palavra poderia consertar o estrago feito. Dias se transformaram em semanas, e ela mergulhou em uma tristeza profunda. Parou de ir às festas, evitava os corredores onde sabia que encontraria Bernardo, e começou a questionar seu próprio valor.

No entanto, a vida segue, mesmo quando dói. Foi sua melhor amiga, Luiza, quem a ajudou a sair do poço. Com paciência e palavras sinceras, Luiza lembrou Leazinha de quem ela era antes de Bernardo: uma garota forte, inteligente e cheia de potencial. Juntas, começaram a frequentar eventos culturais, explorar novos hobbies e até participar de um grupo de teatro local.

Foi lá que Leazinha conheceu João. Diferente de Bernardo, João era calmo, reservado e adorava arte tanto quanto ela. Não havia nada de extraordinário nele à primeira vista, mas era exatamente isso que o tornava especial: ele era genuíno. Ao longo dos meses, eles desenvolveram uma conexão profunda, baseada em respeito e admiração mútua. João nunca tentou pressioná-la; apenas esteve presente, oferecendo apoio silencioso. Os dois guardariam no coração o dia do primeiro beijo – Ambos na casa de Luiza e ao som de “Only When I Sleep” de The Corrs, beijaram-se para viverem algo que só ocorrem nos filmes mais clássicos: O Amor Eterno

Anos depois, Leazinha olharia para trás e perceberia que aquele episódio doloroso a moldara. Aquele amor falso a ensinou a reconhecer o verdadeiro. Casada com João, ela finalmente entendia o significado de um relacionamento construído sobre bases sólidas, não sobre jogos ou mentiras.

E, embora ainda houvesse dias em que se lembrasse da fala nociva entre Bernardo e Enzo, esses pensamentos já não a feriam. Eles eram apenas sombras distantes, lembranças que serviam como prova de quão longe ela havia chegado. Porque, afinal, a vida não é sobre evitar quedas, mas aprender a levantar-se delas — e dançar novamente.