Dexaketo

Simplesmente Gaiato

Rivais Sim, Apaixonados Também

Na vibrante Timbone, sob os fogos do Carnaval, Leazinha, herdeira da mais poderosa escola de samba da cidade, os Serpentes Azuis, esgueirou-se para um baile de máscaras. Lá, entre cores e risos, encontrou Bernardo, um desconhecido de cabelos vermelhos que a fez dançar até o amanhecer. Prometeram se reencontrar na mesma noite, sem máscaras.

Ao desvendarem os rostos, o coração de ambos gelou. Bernardo era filho dos Águias Vermelhas, rivais históricos dos Serpentes. “É impossível”, sussurrou Leazinha, recuando. Mas os olhares roubados nas esquinas da Lapa, os bilhetes escondidos sob os tamborins, e os beijos furtivos nos becos de Santa Teresa tornaram o proibido irresistível.

A descoberta veio quando o pai de Leazinha, o temido Mestre Celso, surpreendeu-os no Morro do Corcovado. “Nunca mais o veja, ou ele desaparecerá!”, ameaçou, apontando para o abismo. Separados, Bernardo jurou encontrar um jeito.

Um mês depois, durante os ensaios para o desfile, Leazinha encontrou um envelope em seu tamborim. Era um mapa levando ao sótão da sede dos Águias, onde Bernardo aguardava com um antigo diário. Nas páginas, a verdade: há 50 anos, os avós deles, também enamorados, foram vítimas de uma mentira arquitetada por um traficante que lucrava com a rivalidade. A traição que dividiu as famílias nunca existira.

Decididos a desmascarar a farsa, roubaram o carro de som do desfile e, no meio da avenida, durante a apresentação dos Águias, interromperam a batucada. “Herdamos uma mentira!”, gritou Bernardo, exibindo o diário e uma carta de amor amarelada, assinada pelos avós. A multidão calou-se.

Mestre Celso, pálido, reconheceu a caligrafia da própria mãe. Envergonhado, caiu de joelhos. Os líderes das duas escolas, diante do público emocionado, apertaram as mãos.

Naquele instante, Leazinha correu para Bernardo, e o beijo deles, agora livre, ecoou nas telas da Globo. No ano seguinte, as escolas se fundiram, criando Serpentes e Águias, e o casal desfilou juntos, vestindo vermelho e azul.

Na última curva da Sapucaí timboneira, enquanto a multidão gritava seus nomes, Leazinha sussurrou: “O amor venceu”. Bernardo sorriu, lembrando-se do baile de máscaras. “Sempre vencerá, aquele que ama”.

Final feliz, entre tambores e flores, sob um céu que já não conhecia segredos.

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