Nos lençóis da noite, em devaneio ardente,
teu corpo é um fantasma de volúpia e mel,
que acende em meu peito um fogo crepuscular.
Nos sonhos, teu riso — um véu transparente —
desata desejos que a razão não quer calar.
Mas quando a aurora rompe o véu do firmamento,
resta-me o sussurro de um beijo fugaz,
e o vazio do leito, onde em vão me enrosco,
como folha seca ao vento do inverno.
Ah, mulher de ilusão, carne nunca tocada,
és fogo que arde em cinzas de um abismo,
miragem que escapa ao toque mais ousado.
No espelho da noite, teu rosto é um abismo
que me arrasta, nau, sem âncora ou destino,
ao mar sem porto do desejo inconfesso.
Se em sonho te possuo, na vigília te perco,
e o coração, em vão, te chama em cada verso.


Deixe um comentário