Ela era bem simpática, tratava bem todo mundo, além de ser inteligente e de ótimo convívio, porém era muito feia. Sua feiura superava todos os status da palavra feio. Era de se assustar, uma mistura de lobisomem com chupa-cabra. Entretanto era o único defeito dela.
Uma certa tarde eu a pego chorando pelos cantos do colégio. Pergunto se está tudo bem. Ela chora bastante, eu pergunto o que houve. Ainda triste, e educadamente, ela me responde: “Eu nunca vou namorar, eu sou muito feia! Quem é que vai querer me dar um beijo? Quem é que vai querer me abraçar? Quem é que vai querer dizer para os amigos que eu sou sua namorada? Eu sou muito feia! Eu sou muito horrorosa! Olha… eu não tenho uma qualidade estética! Tudo em mim é horroroso, isso é muito triste!”
Naquele momento eu falei para ela que a queria. Ela disse que não precisava ficar com ninguém por pena, pois seguiria a sua sina de feiura. Eu virei para ela e disse que eu não estava com pena, pois fazia tempo que eu estava a querendo, pois o seu único defeito era ser feia mas ela tinha outras tantas qualidades. Além disso, reafirmei o que seria ser feia para ela, e se algo a incomodava na sua estética, poderíamos dar um jeito. Agora as outras qualidades eram raras, e não tinha dinheiro que desse jeito.
Passam-se alguns meses, ela já era minha namorada oficial há um tempo, e a gente foi ajeitando o que a incomodava. Muita coisa que existia ali de feio, na verdade, era apenas porque ela se deixava relaxar, não se preocupava tanto com beleza. No momento, em que transbordou amor próprio, tudo aquilo que a incomodava foi embora, e aos poucos, aquela estética de lobisomem com chupa cabra se revelava uma mistura de miss Brasil com miss Universo.
A Mocreia encantava a todos por onde passava. Ela não gastou “rios de dinheiro”, apenas percebeu que detalhes de amor com o espelho, fazia bem para o ego e ao espírito. Deixamos o namoro e voltamos a ser amigos. Homens a queriam, mas ela agora escolhia, e não era a beleza exterior que importava. Qualquer piada infame com outras mulheres, era o suficiente para ela desdenhar dos escrotos que a cercavam agora.
Ela voltou a relaxar com a estética, a beleza lhe trouxe convívio com gente que ela desprezava. Falei que a beleza não era culpada por isso. Se amar era mais importante do que o que os outros falavam. Assim ela tinha dias de lobisomem com chupa cabra, e dias de Carol Castro com Isis Valverde. Ela se amava como era, e pronto. Dias de mocreia, dias de top model. Ela era feliz, e isso era o que importava


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