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Ana

Ana o conheceu. Nas redes sociais, ele tinha dado o típico valor máximo a ela.
Começaram a conversar, por horas. Ela, sempre muito curiosa em aprender, muito queria
saber sobre o Chorinho, que estilo musical inovador e, ao mesmo tempo, antiquado, mundo
do qual ela queria fazer parte. Ela o achava extremamente estúpido, tinha pensamentos
stúpidos, falava de sexo com o saudosismo que, depois, ela descobrira que nunca tivera.
Ela, como sempre, sem saber o seu valor, passava horas sofrendo por pessoas que não a
amavam de verdade, tampouco ela se amava de verdade. Passava horas por toda a sua
existência indagando: por que, diante de todo o carinho que doava aos outros, ainda assim
ela não era amada?


Chegou a perguntar a ele, o José, músico jovem, dotado de estúpida imaturidade,
sobre seus amores e ele, que após muitos diálogos, chegou a confessar que sempre fora
apaixonado por ela, falava de uma moça, da igreja, bem apessoada, chamada Ellen. Ah!
Como Ana sentia-se enciumada por aquela menina que nunca fora sua namorada, ao passo
que tinha tanta importância a ele.


Ana levou mais um não de um homem, o francês da Jurema, chamado Pierre. Pierre
era estudante de Medicina e passava por grandes tribulações financeiras. E Ana sempre
quis casar com um médico. Ora, ora! Quem não nesse Brasil de meu Deus, né? O fato é
que Pierre a enrolava para ter um encontro sempre, e tanto prometia como faltava, mas não
era ruim, era só atribulado, coitado! No entanto, Ana não entendeu isso na época, sentiu-se
magoada, triste, acabada, desvalorizada. Mal sabia ela que ninguém tem vida fácil. E ele
não estava tendo, era sofrido, era solitário e era homem. Tinha de ser forte e aguentar toda
a barra. Enfim. Puseram, no relacionamento duradouro de três semanas, Ana chorou,
chorou e chorou. Para ela, tudo era sobre ela. Ele simplesmente não a amava, e assim foi,
por meses, o seu pensamento.


Foi afogar as mágoas com o José, que também estava a sofrer por Elen, a pobre
moça que também não tinha nada a ver com ele, só vivia outra fase da vida espiritual e não
tinha tempo para frivolidades.


Contudo, ambos estavam a sofrer. Encontraram-se. Ana não o achava um rapaz
muito interessante. Queria sua amizade. Ele era mais novo, cuidava do pai (que acabara de
perder as falanges de alguns dedos) – pensou “que rapaz amável e responsável com a
família, carinhoso, gentil, certamente vale a pena conhecê-lo”, e tinha um gosto adorável
por músicas, músicas as quais ela nem conhecia. De fato, conversaram. Por alguns
instantes, ele tentou beijá-la. Disse “não tenha medo”, tinha um mau hálito terrível, mas,
diante da sua imensa carência, Ana sentiu-se tentada a beijá-lo. Mas não o beijou. Era
muito cedo. Que absurdo! Ainda não tinha finalizado as coisas com Pierre.
Na semana ou no dia seguinte, não me lembro ao certo, José foi à sua casa,
beijaram-se. O gosto do beijo era amargo, tinha mau hálito, e ela não sabia ao certo o que
sentir, mas não queria mais sentir o que estava a sentir por Pierre, então seguiu em frente.
Passaram a se ver mais vezes. Ana ainda viu Pierre, mas, com o peso na consciência de já
estar com José, não quis beijá-lo. Na verdade, queria findar o encontro, mas, com a sua
terrível capacidade de dizer não, a qual era ínfima, acabou o beijando, contou a José e
explicou que, apesar de não terem nada, era importante a ela ser sincera desde o começo.
Ana viu José depois de encontrar as amigas. Ele veio com o convite esdrúxulo de
comer uvas em seu espaço de música. Ana carregava um vinho consigo e muitas tristezas
no coração pelas amarguras da vida, suas dermatites que mais pareciam uma doença
autoimune, as quais a envergonhavam muito. Ana foi ao seu encontro, ele se ofereceu para
pagar o transporte. Ana nunca foi de negar algo de graça ou de querer gastar dinheiro,
então foi. Deu-lhe o seu vinho de presente e beijaram-se, por horas. O beijo ainda tinha um
gosto péssimo. Mas agora já era mais doce. Ele chegou a despi-la e, sabe como é a carne
do jovem: fraca! Ela explicou a ele que estava com as dermatites no corpo, morria de
vergonha, coitada! Ele, muito doce, disse que não precisava ter vergonha. o seu desejo por
ela não diminuía. Ela pensou: “que rapaz gentil, que gentileza extrema, acho que ele
realmente gosta de mim”, então o beijou por horas, saiu com um gosto de quero mais e um
sorriso de masseter a masseter.


Logo mais encontraram-se, em sua casa. Seu vestido era preto, em poá, ela andava
com calcinha bege. Beijaram-se, beijaram-se, ele ofereceu-lhe um anel e, Ana, sem
aguentar tantas gentilezas, sugeriu que transassem, apesar de antes explicar que não
queria transar por um bom tempo. Ele aceitou (ao certo, ele nunca tivera tal experiência. Ela
o convidara ao sexo, sem muito saber de sexo e ele sem saber nada. Pegou um
contraceptivo no quarto de sua mãe, às escondidas de seu padrasto e de sua mãe, pediu
silêncio e, sem muita lubrificação, iniciaram o ato). Primeiro começaram no sofá, doía. Logo
mais foram para a mesa. Ana tinha sido estuprada em sua adolescência e, logo depois, tido
experiências dolorosas quanto ao respeito ao seu próprio corpo, então sexo pra ela era um
remédio ruim que criança tinha que tomar por uma das necessidades básicas da vida. E era
assim que Ana considerava sexo: uma necessidade básica da vida pela qual ela tinha de
passar. Ana o sentia penetrá-la com muita dor, mas sexo era um medo o qual ela tinha de
enfrentar. Então foi. Ela fingia que gostava, enquanto, para ele, em três a quatro minutos,
tudo acabou, inclusive foi como ela o apelidou depois. Dia 2 de junho, marcaram um café e
iniciaram o namoro. Ana conheceu a família e que família adorável, ela tinha duas
cunhadas, um sogro e uma sogra e muitos amigos. Ana também conhecera uma música.
Dindi. Na voz de um amigo de José. Como o mundo era pequeno e como Ana o conhecia
pouco. Foram ao Sex shop. Fingiram que eram casados. Era delicioso para Ana pensar
como pertencente a alguém e, no fundo, amava ter essa sensação de pertencimento. Ana
realmente amava aquela sensação, de poder ser ela mesma e poder amar e ser amada.
Um anel marcava isso, afinal. Ela tinha se deitado com ele e ele fazia valer a pena todo
esse sacrifício, então. Compraram algemas. Pretas. Camisinhas, sem látex, porque Ana era
alérgica. Ana também foi ao médico, costumava pedir a bateria de exames comprobatórios
de que não lhe acometia IST alguma. Isso a tranquilizava. Pediu que José fizesse o mesmo,
ele não o fez, porque veio com a justificativa de que ela tinha sido sua primeira experiência
sexual. Ana acreditou, confiou em sua palavra e sentiu-se livre para ficar com alguém que
jamais teria alguma doença, visto que ela era sua primeira experiência.Passaram a se ver
com mais frequência no espaço musical que ele tinha. Ana e José passavam os finais de
semana lá. Sem geladeira, sem comida que não fosse perecível, tudo sem lactose, com
frutas, pães e tudo para deixar Ana feliz. Ana realmente estava se sentindo valorizada.
Tomavam banho juntos, também. Era divertido, pelo menos para a Ana. Além do prazer da
água passando pelo seu corpo, numa noite fria, ou numa manhã ensolarada, ainda sentia a
beleza da natureza, da nudez crua sendo vista pelo seu amor e poder relaxar e ser ela
mesma na frente de outro era simplesmente mágico. O sabonete era especial, enxugar-se
era especial, ser cuidada era especial. Transavam à medida. Ana ainda sentia muita dor,
mas tentava restringir isso, e José tinha a sensibilidade de, ao passo que ficava chateado,
também entendia o quanto isso era difícil para Ana.
Ana passou a desmarcar seus compromissos importantes. José não tocava, era
período de pandemia, então só dava algumas aulas escassas durante a semana. Ana
começou a sentir uma vontade absurda de estar perto e, de viver a vida e o amor
intensamente, esse que ela estava construindo por ele. Os beijos nas bochechas, os
cheiros nos olhos, o elo constante que estava sendo formado e, por fim, a sensação de
poder respirar em paz, sem que, para isso, o temor de ser deixada fosse deixado de lado.
Ana estava muito feliz. Estava planejando uma vida a dois, sua vida, em todo o resto, era
chata, mas poder relaxar com José era magnífico. Poder ser ela mesma era simplesmente
brilhante.


A pandemia acabou. José agora começou a dormir em sua casa e a fazer shows.


Viam-se sempre que dava. Era notável, Ana tinha um carinho imenso pelo José. A música
“Eu conto os dias, conto as horas pra te ver” era de fato real.


Ana brigava com ele. Queria sua presença a todos os instantes. Chegou a ligar e a
terminar várias vezes. A psicologia diz que esse tipo de comportamento também denuncia o
intenso medo da rejeição. E Ana o tinha. José também o tinha. Ciúme exacerbado. Pasme
que ele já tentou romper o relacionamento por um beijo na bochecha de seu aluno. Ana era
uma moça aplicada, dava aulas, cursava um curso de renome, embora pouco fosse amável
a um ponto que amasse a si mesma.


Ana tinha também grandes obsessões, com partes do seu corpo. José já não
aguentava mais as lágrimas com medo de as coisas darem errado, até que aguentou no
começo, mas tudo são flores no início.


José começou a tocar por horas e horas. Cada vez mais ausente. Quando
transavam, o tempo era escasso, mas Ana sentia desejo, volúpia, luxúria e até teve
orgasmo. Ana, que nunca tivera um orgasmo, teve o seu primeiro. Teve a confiança de
deitar-se com um homem e se permitir ser vulnerável. Ana adorou. Ana podia até não se
amar, mas, de fato, era amada.


Seu pai, por um tempo, discutiu muito com José e Ana ia com unhas e dentes para o
defender. Saíam às vezes. Ana amava as saídas esporádicas. Embora sempre fosse para
ver em algum shows, acompanhar algo da família. Mais dormiam juntos do que qualquer
outra coisa, inclusive até mais que transar.


Quando o pai de Ana veio a falecer, Ana ficou ainda mais dependente de José.


Agora ele era sua única visão masculina. Ana passou a cobrar ainda mais a sua presença,
passaram a sair menos e a se encontrarem menos. Ana estava a sofrer. Amava muito o
José, e, para ela, sentimentos não passam, quando genuínos, nunca.


Em uma briga, Ana decidiu terminar, não podia mais viver na escassez dele. José
apagou todas as fotos juntos, como se Ana fosse um mero objeto da casa a ser excluído,
Ana chorou muito. Ana passava por muitas coisas. Tinha descoberto agora o seu autismo,
ao passo que também perdia o pai, ao passo que também assumia responsabilidades que
não eram suas, ao passo que também perdia o amor que ela tinha dedicado a José com
tanto esmero.


Ana foi atrás. Ele lhe disse que ela era tudo, enquanto Ana derramava lágrimas de
saudade por uma época em que se sentia valorizada e amada.


José decidiu dormir na casa de Ana, após o rompimento. Por que não tentar de
novo? Ana quis se certificar de que realmente estava tudo bem e que ainda era amada por
seu namorado. Encontrou duas mensagens, uma com Lucas (um de seus melhores amigos)
falando que Ana era boba de achar que relacionamentos eram duradouros, que ele era
jovem e deveria viver sua maturidade ao máximo, também discutiam sobre a beleza das
nádegas de uma mulher qualquer num aplicativo qualquer, comparando a magreza de Ana
com a beleza sensual da mulher, que, cá entre nós, tinha a cara velha e as pernas jovens,
como no poema de Manoel. A segunda mensagem era com uma prostituta, perguntando os
preços de um atendimento online.


Ana perdeu por um breve momento o controle. Tentou imitar sua madrasta, quando
acordou seu pai com um tapa na cara, exigindo explicações, mas não conseguiu. Ana tinha
a compreensão de que, para tudo, há uma explicação, mesmo que os dias e as
considerações lhe pesem demais.


José explicou estressado que não havia nada para ela se preocupar, que a
confirmação de que ele tinha beijado a moça de pernas lindas e cara velha não passava de
uma mentira para enturmar-se com o amigo, que tampouco havia transado com ela, como
confirmara. Ana acreditou. Não podia fazer outra coisa senão acreditar.
José também explicou que procurou a prostituta para um amigo. Ana tinha de
acreditar, queria acreditar.


Depois disso, passado algum tempo, Ana transou com José. Nessa vez, Ana
derramou lágrimas. José estava lá, mas era um sentimento de que um leão estava se
apossando de seu alimento, nada mais que isso.


Ana terminou de novo. Não podia se permitir ficar num local em que não lhe era
ofertado amor, depois de tantas mentiras.


José sempre pedia desculpas. José também comprava alguns presentes, todo dia 2
para comemorarem o mês de namoro, mesmo brigados, tocava Chico. Ana sempre o
perdoava, sempre o amava com todo o coração, era o que ela podia fazer, além de sempre
querer ele ao seu lado, mesmo que fosse só para dormir.


Passaram quatro meses separados. Ana era um lamento só, chorava todos os dias,
de saudade, consultava diversos cartomantes: Ele irá voltar? Ele ainda me ama? Ele está
com outra. Ana passou a sair a todos os lugares em que ele tocava, para vê-lo mesmo que
fosse um pouquinho. Culpava-se sempre. Como poderia viver se tivesse perdido o seu
amor por negligência sua? Será que ela sempre estragava tudo? Começou a fazer um
curso para controlar seu comportamento, não podia perder aquele rapaz, ele era o amor da
sua vida. E daí que ele não a procurava, e daí que ele passava pouco tempo com ela? Ela
tinha de compreender que a vida adulta era assim.


Em um bloqueia e desbloqueia a imenso, José declarou-se para Ana, disse: “Ainda não sei se vamos voltar, mas o que sei é que, não importa quanto tempo passe, você sempre será o amor da minha vida”


Ana ficou radiante. Era um alívio que ele sentisse o mesmo, e era um alívio saber que ele
sempre estaria em seu coração. Ana até tinha conhecido um rapaz. O Pedro, no mero
acaso do Detran, tinha se encantado, mas ninguém era como José para ela.
Depois disso, voltaram a se falar, a sair, a se encontrarem. Ana estava desgostosa de ele
não a ter pedido em namoro ainda, embora também quisesse ir devagar, mas continuava a
vê-lo. Queria também viver coisas novas com José. Sair mais, viver a juventude, transar
mais. Apesar de quatro meses separados, Ana e José encontraram-se quase mensalmente
para namorarem, embora só houvesse desejo carnal.


Ana pediu que ele a pedisse em namoro, queria inclusive seu anel de volta. José
disse que não tinha mais aliança alguma consigo. Ana chorava copiosamente. Ela sabia, no
fundo, que ele não a queria. Mesmo assim tentou.


Discutia, ia encontrá-lo, cobrava amor, tudo era pesado demais, cobrava por um beijo, por
um abraço, por sexo. Ele dizia que não queria transar, tampouco vê-la para brigar. Ana
cobria-se em culpa, nada mais a travestia a não ser a culpa e a enorme sensação de que
não era suficiente.


Ana e José discutiam muito, todos os dias, José disse que iria tentar, mas que não
queria mais. E tentava. Sumia quase sempre, falava mentiras e mais mentiras, na confiança
já quase extinta de Ana, era grosseiro com ela, não a procurava sexualmente, mas, sempre
que Ana procurava desistir, lembrava-se do “eu posso não demonstrar, mas eu te amo,
minha princesa”, e as mentiras continuavam.


Ana percebeu então que se fazia pouco presente na vida de José, que queria mostrar a ele
o quanto o amava. Então convidou-se para sair com ele, em meio a turbulência de términos
semanais (para ele, namoros eram chatos, ela o cobrava incessantemente, que não o
deixava alternativa senão o desamor), foi a uma dessas suas saídas noturnas, ouvir música,
até de madrugada. José a convidou porque ela pediu muito. Saíram. Até três da manhã.
José estava angustiado o tempo todo em sua presença. Ao final, brigou com ela, porque a
conta tinha sido cara e Ana não tinha se oferecido para pagar. Acusou-a de não ser a
parceira ideal. Ela chorou, dizendo que não sabia o que fazia, nada era suficiente.
Ele pediu desculpas. Ela calou-se e prosseguiu a chorar. Ele disse “então vamos
terminar”, Ana implorava, suplicava, chorava a seus pés, como quem, em seu último grito
de vulnerabilidade, pedisse por água. José cedia, prometia se esforçar para dar certo, então
sumia de novo. Magoava Ana de novo. Ana chorava, conversava com a sogra e ela
aconselhava a procura de um amor novo, que realmente a respeitasse, mas Ana trazia
consigo que as coisas tinham conserto, que ele a amava e estava tudo certo.
Nas discussões que tiveram por último, Ana passava mal, tinha ânsias de vômito,
estava em seu limite, mas, se ele a amava, que mal tinha? Ele a levou à faculdade, porque
ela estava mal, quem também não estaria tão mal se esforçando por algo fadado ao
fracasso?


José repetiu centenas de vezes “Você merece. Você merece tudo o que recebeu,
você merece os gritos, você procura, você não me deixa em paz”. Numa dessas brigas, Ana
tocou o pen-drive com tanta força, que cortou o dedo. José parou o carro, bateu no som
repetidas vezes e gritou com Ana, culpou-a de tudo. Ana chorava copiosamente, sentia-se
um fracasso.


Depois disso, cortaram contato. José pediu desculpas depois e disse que gostaria
de não manter contato, estava muito ferido. Ana pediu para encontrá-lo, ainda carregava
consigo a culpa de fazer dar certo. Ana pediu para voltar com ele, ele disse que não,
empurrou-lhe os braços, repudiou-lhe os abraços e disse que, se ela se aproximasse, ligaria
para a polícia ou a agrediria. Ana de novo chorou copiosamente.


Ana resolveu seguir em frente e deixar pra lá. Até que José falou que estava com
depressão, que o namoro havia acabado com ele, e Ana novamente sentiu-se culpada e foi
atrás, ligou, preocupou-se com sua situação. Então José faliu com sua mãe, disse que ela o
incomodava, que ela não o deixava em paz e que ele queria ficar só. A situação saiu de
controle. Os pais de Ana gritavam a ela, dizendo-lhe o quanto ela os envergonha e
esconderam chaves, tudo, para que ela não saísse ao encontro de José.


Ana sentiu-se ultrajada. Todos a taxaram como louca. Ligou para José, pedindo que
ele viesse conversar com ela, ele a tinha deixado mal. José simplesmente disse “Isso é um
problema seu, não meu. Deixe-me em paz.


Ana sentiu-se totalmente desrespeitada, os pais não a consideravam mais e, por
uma busca incessante pelo silêncio, cortou-se. Até que viu o quão longe tinha ido. José era
de fato narcisista. Sempre que ela ia embora, ele a trazia de volta ao seu entorno e a
castigava, enquanto Ana morava na culpa. Ana viveu pelo ódio, até que quis perdoar, afinal
o amava ainda, e achava que, por mero deslize, ele só não sabia como amá-la, mas o amor
existia, sempre existiria.


José comunicou-se com ela ainda. Disse que agora bebia, que escutava Chico
Buarque, muito até. Ana perguntou se do lado de lá existia saudade, amor, mesmo que um
pouco.


José, estressado pela tentativa de diálogo, disse que já sentira muita falta, mas que
isso havia passado, que o carinho e o respeito continuavam, mas a falta e o amor, não
mais.


Só haviam passado dois meses desde o término. Como ele não sentia mais
saudade? Ana sentiu-se desolada mais uma vez. Tudo o que ela havia acreditado piamente,
que existia amor era uma mentira! Para ela, os sentimentos não acabavam assim, mas,
para ele, haviam acabado. Quão frágil era esse sentimento dele por ela que havia
despedaçado assim? Será que ele realmente valia a pena? Será?
A resposta era não, todas as mentiras, todo o descaso. José dizia que estava
arrependido e Ana, por amor, perdoava, em seguida, ele repetia o mesmo processo. Ana
chorava, perdia-se de si, ele pedia perdão e ela o desculpava, achando que também era
culpa dela. Até que nesse emaranhado de dor, ela viu o quanto faltava nela gentileza, amor,
paz, mas consigo mesma, paz para perceber o quão frágil era essa redoma de sentimentos
dele por ela, tão escasso e raso era esse amor e essa saudade que, sempre que ele a
magoava, dizia que sentia.


José ainda afirmou que tinha arrependimentos de não ter sido legal, mas ele só não
queria mais, e Ana não respeitava isso. Que ele havia se esforçado para ficar com ela e
fazê-la feliz. Mas onde? José ainda afirmou que já se perdoou, que quer seguir em frente e
que os sentimentos acabaram. Que Ana deveria perdoá-lo, afinal ela também tinha
cometido equívocos. Ana decidiu derramar lágrimas de dor. José não era quem ela
pensava, aliás, José nem era. José era o resto dele mesmo, afundado em alguém bêbado
que ela não reconhecia mais, destruído pelo monstro que a magoou todas as vezes que
teve oportunidade, que lhe disse seu grau de insuficiência como parceira todas as vezes,
até que não sobrasse nada além de dor nela.


José estava feliz e Ana? Ah! Ana estava pronta para descobrir a felicidade.

Escrito por Laís Carneiro

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