A Treinadora Dexaketo Textos

A Treinadora – Capítulo 4

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Era chegado o momento, o primeiro jogo de Leazinha como treinadora do Bela Moça! Leazinha faz uma senhora preleção. Ela relembra a importância do clube no cenário nacional, que a seca de títulos tinha que acabar com aquele elenco, pois ali tinham jogadores capazes de reerguer a história triunfante do clube jandaiense. O zagueiro Raul riu, e disse que com uma mulher à frente, esse elenco que já não jogava nada, jamais iria evoluir. Ela se aproxima e olha para Raul, furiosa, exclamando: “Com esse seu pensamento de merda, esse time nunca vai para frente mesmo.” Ela respira, senta no chão e fala: “Vocês querem ser lembrados como o pior elenco da história desse clube, só porque a treinadora é uma mulher? Meu Deus! O problema é que eu já sou foda demais, eu tenho minha história no Futebol Feminino. Se aqui vocês me ferrarem por merda de preconceito, eu volto para lá como Rainha, porque eu sou Rainha lá. Já vocês, seguirão sendo apenas os caras do único elenco rebaixado da história centenária do Bela Moça. Porque esse time caindo, vocês não saem nem vivo daqui. E aí? Vão estragar a vida de vocês, por causa de preconceito? Eu to aqui para somar, eu sei que vocês tem talento, eu vi nos poucos treinos que tivemos. Eu confio que vocês podem ser campeões da Fiorentino. Mas eu não posso acreditar sozinha! (Ela levanta, respira) Os que saem de titular, são os mesmos do último coletivo de ontem.” Ao terminar de falar, Leazinha se retira do vestiário e se encaminha ao gramado.

A partida foi uma desgraça, um 4×0 sem piedade do Ruano. Era inaceitável, principalmente, pelo jogo ser no Arenão. Antes de terminar a partida, Leazinha fala para o repórter da Globo, que estava perto dela, e avisa: “Prepara o microfone, que hoje vai ter polêmica!”

Ao chegar na coletiva de imprensa, sem sequer falar com os jogadores no vestiário, ela pede para ninguém fazer perguntas, ela vai desabafar sobre o 4×0. Os programas esportivos, todos, passam a transmitir a coletiva ao vivo. Muitos acreditavam que ela ia pedir para sair, outros acreditavam que ela resistiria hoje, mas não sobreviveria mais 2 jogos. Ela começa a falar:

“É uma vergonha para um país que emprega a educação como pilar principal, termos ainda homens tão machistas. Eu já provei com meus títulos na LFF, que sou uma das melhores treinadoras desse país. O João me chamou, não só porque nenhum homem quis vir, ele acreditou em mim. O problema é que esse elenco de merda, que vai ser rebaixado com qualquer treinador, é misógino demais. Esse time todo deve ser eleitor do Partido Desenvolvimentalista. Minto! Bernardo e Studart foram os únicos que se permitiram me ouvir, os outros, só aceitam ouvir homens. Como se eles estivessem na condição de escolher treinador. Um time de jogadores fracos mentalmente, que entram em campo, já com a certeza da derrota. Infelizmente, eu vou ter que treiná-los amanhã, infelizmente, eles vão tentar me derrubar, e tenho certeza que conseguirão, porque vocês (mídia) vão encher o saco da torcida, até eles pressionarem a diretoria me derrubar. Mas eu só saio daqui com eles me demitindo e pagando cada centavo da multa rescisória. Eu quero ser campeã aqui, como fui aonde passei. Mas preciso de gente que lute comigo, não uma cambada de homens fracos.”

Leazinha sai da coletiva, direto para o estacionamento, nem no vestiário passa. Ela vai para casa.

Ao chegar em casa…

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