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A Vadia de Salvador

Todos a odiavam! Falavam horrores dela! …. “Vadia, Puta, Quenga, Ordinária, Cachorra…” e outros termos bem piores que não vou citar aqui por educação. Em frente ao prédio que ela morava, eram carros a todo instante parando. Algumas pessoas entravam, já outras a levava para passear, e obviamente, os vizinhos vigiavam cada passo dela.

Ela era educada no convívio do dia-a-dia, não à toa que os porteiros a chamava de “Vadia de Salvador”, e ela ria, pois ela mesmo criou tal apelido, ironizando o tratamento que o povo a dava, e reafirmando o lugar de onde veio.

Uma certa noite, marquei de me encontrar com ela, e foi fantástico. Nem percebi o tempo passar e ela fez questão de fazer eu não perceber. Entre vinhos, boa comida, conversa sobre diversos assuntos (descobri que ela torcia para o Galícia e tinha um cachorrinho chamado Pompeu) e muito sexo, descobri que ela era minha Vadia favorita e assim, ela gostava de ser chamada…. Favorita!

Tanto tempo depois, a “Vadia de Salvador” resolveu partir, voltar para sua cidade-natal, mas percebeu que aonde nasceu, era tratada bem pior do que aonde morava em Fortaleza. Então, ela resolveu voltar, e quando voltou teve até festa de recepção. Ela fazia muitas boas ações no bairro com o dinheiro que ganhava, quando ela foi embora as coisas pararam de acontecer, então, seu retorno foi festejado, as pessoas começaram a parar de olhar os carros que ali paravam, e olharam para o conserto na escola, para as ruas asfaltadas, que ela conseguia ao convencer os deputados e vereadores que eram seus clientes, ao cuidado com os cachorros e gatos abandonados, as ajudas que ela dava ao povo em situação de rua, as senhoras que moravam só e ela ia visitar para conversar e ajudar com as coisas de casa… Ela era a própria Tieta.

A “Vadia” jamais seria chamada assim novamente, virou “Tietinha” na boca do povo. Os porteiros adoravam o quanto tudo havia mudado. A única coisa que não havia mudado era o coração gigante daquela mulher. Ela pode ser puta, mas isso era sua profissão, sua essência era melhor que de muita “gente de moral”.

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