Algum tempo passou, eu voltei a minha vida normal e abdiquei de amar, amava apenas a mim mesmo, e quando podia, curtia algumas meninas, mas tudo escondido, não queria coloca-las em perigo. Era difícil destraumatizar após perder dois amores apenas por um doentio preconceito.
Esse tempo virou anos, a menina que eu era, virou um mulherão. Não é por nada, mas eu fiquei linda, gostosa, inteligente e craque de futebol. Virei profissional, joguei o Brasileirão Feminino, a NWSL, a WSL, passei anos na Seleção Brasileira e encerrei a carreira depois de ser capitã no bicampeonato mundial da seleção. Voltei para Fortaleza com status de craque, era conhecida na rua e tudo. A Leazinha virou Leazona, como disse o Galvão Bueno, no momento que eu fiz o gol que deu o ouro olímpico para a seleção feminina de futebol.
A Leazona morava ainda no Presidente Kennedy e ainda tinha a mesma turma. Bernardo, inclusive, agora era um senhor casado. Casou exatamente com Marcela! Na vida, tem gente que nasce para ter o amor para vida inteira. Outro caso como esse, apenas dos “comunistas”‘, Seu Renato e Patrícia, além dos meus postiços, Seu Nelson e Dona Marcília. Aliás, minha mãe, Dona Lavínia, se ajeitou com o Sargento Martins, eles até adotaram as gêmeas Luiza e Kiara, e os nomes não foram eles que colocaram, foi coincidência. Em meio àqueles casais todos, eu ria da situação e dizia que só eu não dei sorte com o amor. Bernardo rir e disse que minha vez ainda chegaria. Eu virei e disse que estava muito bem vivendo um pouquinho de amor por vez, sem me apegar.
Uma certa manhã, a UNIFOR resolve me homenagear, visto que comecei lá. Logo após receber a placa, escutei uma mulher me perguntando se estavam aceitando gente para o treino. Eu disse que não sabia. A mulher riu e perguntou se eu não lembrava dela. Eu disse que não. Ela seguiu rindo e disse que se chamava Aline, e que por minha causa, ela parou na seleção da UNIFOR. Eu não conseguia lembrar. Ela pergunta se eu não estava afim de sair com ela. Eu topei.
À noite, ela me contou tudo, que entrou na seleção porque me achava linda e queria ver se conseguia me conquistar, mas ela não teve chance na época. Eu resolvi dar a chance. A chance já se estende por 20 anos. Adotamos uma criança e a batizamos de Nelson, em homenagem ao Seu Nelson, quem tanto me acolheu e cuidou.
No fim, virei treinadora de futebol na Série A Feminina e depois fui para o Futebol Masculino. Conquistei títulos e entrei para a história mais uma vez. Alias, só fui pro Futebol Masculino, porque meu amigo Bernardo virou dirigente e acreditou no meu trabalho. Na vida pessoal, amei até os últimos dias todos os amigos, principalmente aquela minha família agregada. Amei Aline. Amei ser a pessoa forte que me tornei. Amei todos os seres humanos que sofrem com o preconceito e criei uma rede de proteção para todos. Apoiei todos que lutavam contra qualquer tipo de violência. Amei, amo e sempre vou amar. Queria ter sido forte desde o início, mas a vida me ensinou a ser forte na marra, mas com muito amor. Amem como querem amar, a vida passa rápido e somente o amor liberta. Seja o amor sempre!